Fortaleza de Alandroal/ Desenho: Duarte d'Armas
Vista Tirada da Banda do Norte
CASTELO DE ALANDROAL
O castelo gótico do Alandroal é uma das melhores datadas
obras de arquitectura militar do período dionisino, graças a duas inscrições,
comemorativas do arranque e da conclusão dos trabalhos de construção.
A primeira data de 6 de Fevereiro de 1294 (BARROCA, 2000,
vol. 2, t.1, pp.1108-1113) encontra-se
sobre uma das portas da fortaleza. Por ela sabemos que o promotor do projecto
foi o Mestre da Ordem de Avis, D. João Afonso, que colocou a primeira pedra
nessa data. A segunda corresponde ao dia 24 de Fevereiro de 1298, sendo mestre
da Ordem D. Lourenço Afonso, e localiza-se no alçado ocidental da Torre de
Menagem (actualmente integrado na Sala do Tesouro da igreja matriz) (IDEM,
pp.1140-1144).
No espaço de apenas quatro anos, procedeu-se, assim, à
edificação do conjunto fortificado, informação que é preciosa para a
caracterização da arquitectura militar ao tempo de D. Dinis, mas também para o
reconhecimento do grande investimento que a Ordem de Avis efectuou, por esses
anos, em castelos no Alentejo, de que são também exemplo os de Noudar e Veiros.
Mas esta fortaleza é ainda importante sob outros aspectos,
nomeadamente quanto à identidade e formação cultural do seu arquitecto. Uma
terceira inscrição, datada criticamente entre 1294 e 1298 (localizada no
torreão direito da porta do castelo) refere expressamente o nome do responsável
pela condução dos trabalhos, um homem oriundo da comunidade muçulmana e
auto-intitulado "Eu, Mouro Galvo" (IDEM, pp.1114-1118). Este letreiro
tem sido considerado uma das mais importantes marcas mudéjares no nosso país e
revela a existência de um albanil islâmico a comandar a edificação de um
castelo, num tempo em que os inimigos não eram já, em primeira instância, as
forças muçulmanas do Sul da península.
Planta da Fortaleza de Alandroal
Desenho de Duarte d'Armas
Independentemente do seu arquitecto, o castelo é uma típica
fortificação gótica, de planta tendencialmente oval (integrando um pequeno bairro
intra-muralhas), com torre de menagem adossada à cerca e porta principal
(designada por Porta Legal) harmónica, protegida por duas torres
quadrangulares, ligeiramente avançadas para permitir um maior raio de tiro
vertical sobre a entrada. A torre de menagem é uma estrutura pesada, de planta
quadrangular e de três pisos, cujo acesso ao interior encontra-se, actualmente,
entaipado. A ela adossou-se, algum tempo depois, a igreja matriz da localidade
e, em 1744, o seu terraço foi aproveitado para implantar uma torre do relógio.
Ao castelo associava-se a cerca da vila, cujo urbanismo é
muito simples, com uma única via (Rua do Castelo) no sentido O. - E.,
flanqueada por duas portas, a Legal e a do Arrabalde, cujo pé-direito contém a
"vara", célebre medida padrão seguida nas trocas comerciais. À parte
esta padronização estrutural (certamente orientada pela Ordem de Avis), o
arquitecto deixou algumas marcas da sua formação cultural, de que se destaca a
lápide com o seu nome. Uma outra é a janela de arco em ferradura localizada
numa das torres e outros aspectos podem ainda atribuir-se a este mudéjar, assim
se faça um estudo rigoroso e monográfico do castelo, como as pretensas
semelhanças entre o sistema de torres entre esta fortificação e as muralhas
almorávidas de Sevilha, sugeridas por Fernando Branco CORREIA, 1995-97, p.127.
Fortaleza de Alandroal/ Desenho: Duarte d'Armas
Vista Tirada da Banda do Sul
Não parece que Alandroal desempenhasse um papel de grande
relevância na organização das linhas militares da região, pois cedo se iniciou
a sua decadência. Em 1606, grande parte das construções no interior da cerca
encontravam-se já arruinadas e, no século XVIII, o recinto foi objecto de
algumas transformações importantes, como a destruição da barbacã para se
edificarem os novos paços do concelho e a construção da cadeia comarcã no
interior das muralhas.
Só na década de 40 do século XX se procedeu a obras de
restauro, que incidiram preferencialmente na reconstrução de alguns troços e na
desobstrução da estrutura de numerosas casas que, ao longo dos séculos, se
haviam adossado às muralhas.
Fonte: alandroal.info/castelos.xml