Já com várias publicações neste espaço (recordo publicação na íntegra do livro «Contos do Nascer da Terra»), o poeta e escritor moçambicano Mia Couto acaba de ser galardoado com o mais importante prémio da língua portuguesa. Fica registado, em 27 de Maio de 2013 Mia Couto recebe o Prémio Camões. Está de parabéns a literatura e Mia Couto!
Poet'anarquista
Mia Couto
Poeta e Escritor Moçambicano
Mia Couto é o vencedor do Prémio Camões 2013
O vencedor do prémio literário mais importante da criação
literária da língua portuguesa é o biólogo e escritor moçambicano autor de
livros como Raiz de Orvalho, Terra Sonâmbula e A Confissão
da Leoa . É o segundo autor de Moçambique a ser distinguido, depois de
José Craveirinha em 1991.
A escolha foi decidida por um júri, que reuniu
durante a tarde desta segunda-feira no Palácio Gustavo Capanema, sede do
Centro Internacional do Livro e da Biblioteca Nacional, e de que fizeram parte,
do lado de Portugal, a professora catedrática da Universidade Nova de
Lisboa Clara Crabbé Rocha (filha de Miguel Torga, o primeiro galardoado com o
Prémio Camões, em 1989) e o escritor e jornalista (director do Jornal de
Letras) José Carlos Vasconcelos. E também os brasileiros Alcir Pécora,
crítico e professor da Universidade de Campinas, e Alberto da Costa e Silva,
embaixador e membro da Academia Brasileira de Letras, o escritor e professor
universitário moçambicano João Paulo Borges Coelho e o escritor angolano José
Eduardo Agualusa.
Nascido em 1955, na Beira, no seio de uma família de
emigrantes portugueses, Mia Couto começou por estudar Medicina na Universidade
de Lourenço Marques (actual Maputo). Integrou, na sua juventude, o movimento
pela independência de Moçambique do colonialismo português. A seguir à independência,
na sequência do 25 de Abril de 1974, interrompe os estudos e vira-se para o
jornalismo, trabalhando em publicações como A Tribuna,Tempo e Notícias,
e também a Agência de Informação de Moçambique (AIM), de que foi director.
Em meados da década de 1980, regressa à Universidade
para se formar em Biologia. Nessa altura, tinha já publicado, em
1983, o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho.
"O livro surgiu em 1983, numa altura em que a revolução
de Moçambique estava em plena pujança e todos nós tínhamos, de uma forma ou de
outra, aderido à causa da independência. E a escrita era muito dominada por
essa urgência política de mudar o mundo, de criar um homem e uma sociedade
nova, tornou-se uma escrita muito panfletária”, comentou Mia Couto em entrevista
ao PÚBLICO (20/11/1999), aquando da reedição daquele título pela Caminho.
Em 1986 edita o seu primeiro livro de crónicas, Vozes
Anoitecidas, que lhe valeu o prémio da Associação de Escritores
Moçambicanos. Mas é com o romance, e nomeadamente com o seu título de estreia
neste género, Terra Sonâmbula (1992), que Mia Couto manifesta os
primeiros sinais de “desobediência” ao padrão da língua portuguesa, criando
fórmulas vocabulares inspiradas da língua oral que irão marcar a sua escrita e
impôr o seu estilo muito próprio.
“Só quando quis contar histórias é que se me colocou este
desafio de deixar entrar a vida e a maneira como o português era remoldado em
Moçambique para lhes dar maior força poética. A oralidade não é aquela coisa
que se resolve mandando por aí umas brigadas a recolher histórias tradicionais,
é muito mais que isso”, disse, na citada entrevista. E acrescentou: “Temos
sempre a ideia de que a língua é a grande dama, tem que se falar e escrever
bem. A criação poética nasce do erro, da desobediência.”
Foi nesse registo que se sucederam romances, sempre na
Caminho, como A Varanda do Frangipani (1996), Um Rio Chamado
Tempo, uma Casa Chamada Terra (2002 – que o realizador José Carlos
Oliveira haveria de adaptar ao grande ecrã), ou O Outro Pé da Sereia (2006).
A propósito dos seus últimos livros, A Confissão da Leoa (2012), mas
particularmenteJesusalém (2009), o escritor confessou algum cansaço por a
sua obra ser muitas vezes confundida com a de um jogo de linguagem, por causa
da quantidade de palavras e expressões “novas” que neles aparecem.
Paralelamente aos romances, Mia Couto continuou a escrever e
a editar crónicas e poesia – “Eu sou da poesia”, justificou, numa referência às
suas origens literárias.
Na sua carreira, foi também acumulando distinções, como os
Prémios Vergílio Ferreira (1999, pelo conjunto da obra), Mário António/Fundação
Gulbenkian (2001), União Latina de Literaturas Românicas (2007) ou Eduardo
Lourenço (2012).
Nas anteriores 24 edições do Prémio Camões, Portugal e
Brasil foram distinguidos por dez vezes cada, a última das quais,
respectivamente, nas figuras de Manuel António Pina (2011) e de Dalton Trevisan
(2012). Angola teve, até ao momento, dois escritores citados: Pepetela, em
1997, e José Luandino Vieira, que, em 2006, recusou o prémio. De Moçambique,
fora já premiado José Craveirinha (1991) e, de Cabo Verde, Arménio Vieira
(2009).
Criado por Portugal e pelo Brasil em 1989, e actualmente com
o valor monetário de cem mil euros, este é o principal prémio destinado à
literatura em língua portuguesa e consagra anualmente um autor que, pelo valor
intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património
literário e cultural da língua comum.
Fonte: publico.pt/cultura/noticia