O poeta italo-brasileiro Paulo Menotti Del Picchia, nasceu em São Paulo no dia 20 de Março de 1892. Poeta com grande destaque no movimento modernista, foi igualmente autor de romances e crónicas, novelas e ensaios, assim como de peças de teatro, estudos políticos e obras de literatura infantil. O seu primeiro livro de poesia, «Poemas do Vício e da Virtude», teve publicação no ano de 1913. Fundou o jornal político «O Grito» onde publicou os famosos poemas «Moisés» e «Juca Mulato».
Poet'anarquistaMenotti Del Picchia
Poeta Italo-Brasileiro
BIOGRAFIA
Texto de Cícero Magalhães
Paulo Menotti del Picchia nasceu em São Paulo, em 1892. Fez os seus estudos secundários em Pouso Alegre, Minas Gerais, onde aos 13 anos de idade, editou o jornal "Mandu", nele inserindo as suas primeiras produções literárias. Viveu em Itapira, cidade do interior paulista, e aí editou "Juca Mulato", a sua obra de maior repercussão, que já teve dezenas de edições. É autor de romances, contos e crónicas, de novelas e ensaios, de peças de teatro, de estudos políticos e de obras da literatura infantil. Fundou jornais e revistas, foi fazendeiro, procurador geral do Estado de São Paulo, editor, director de banco e industrial. Fez pintura e escultura. Foi deputado estadual e federal. É tabelião e ocupou diversos e altos cargos administrativos. Pertence às Academias Paulistas e Brasileira de Letras.
Menotti del Picchia teve destacada actuação no movimento modernista. Preparou, com Oswald de Andrade, o advento da nova tendência literária e artística, sustentando a polémica com os passadistas, antes e depois da Semana de Arte Moderna. Em seguida, foi aguerrido defensor da doutrina "Verde e Amarelo", opondo-se ao Oswald de Andrade de "Pau Brasil" e "Antropofagia". Defendeu também os ideais do "Grupo da Anta", que superavam os propósitos verde-amarelistas. Participou da Semana de Arte Moderna, sendo mesmo o seu orador oficial, apresentando, na festividade, os poetas e prosadores que exibiam, então, as produções da literatura nova. As suas crónicas no "Correio Paulistano", de 1920 até 1930, como que constituem um "diário do modernismo", registando, quase que quotidianamente, os entusiasmos, as raivas, as lutas e as desavenças da sua geração.
A poesia da fase modernista de Menotti del Picchia é colorida e engenhosa, padecendo do excesso das imagens. Abusa dos elementos plásticos, dos efeitos pitorescos e verbais. Mas, como todos os seus defeitos, que decorrem da atitude polémica assumida, fecundou de idéias o período histórico que viveu, e que ajudou a desenvolver, sacrificando até a realização de obra poética de maior ressonância que podia dar. Poetando agora de raro em raro, controla os seus modismos e as invenções audaciosas, do que resulta uma poesia comunicativa e emocionada. "Nenhum dos seus livros modernistas" – escreve Manuel Bandeira – "superou o êxito de "Juca Mulato", onde o poeta se apresenta na sua feição mais genuína".
Fonte: Jornal de Poesia - Menotti Del Picchia
«Juca Mulato»
Poesia de Menotti Del Picchia
NOITE
As casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.
Todos os rumores são postos em surdina,
todas as luzes se apagam.
Há um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.
Os homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal
e ensaiam o próprio cadáver.
Cada leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono em ensaio de morte.
No cemitério da treva
tudo morre provisoriamente.
Menotti Del Picchia
BELEZA
A beleza das coisas te devasta
como o sol que fascina mas te cega.
Delas contundo a luminosa entrega
nunca se dá, melhor, nunca te basta.
E a imensa paz que para além te arrasta
quanto mais se te esquiva ou te renega...
Paz tão do alto e paz dessa macega
que nos campos esplende à luz mais casta.
A beleza te fere e todavia
afaga, uma emoção (sempre a primeira e nunca
repetida) que conduz
o teu deslumbramento para um dia
à noite misturado, na clareira
em que te sentes noite em plena luz.
Menotti Del Picchia
BANZO
E por que deixou na areia do Congo
a aldeia de palmas;
e porque seus ídolos negros
não fazem mais feitiços;
e porque o homem branco o enganou com missangas
e atulhou o porão do navio negreiro
com seu desespero covarde;
e porque não vê mais de ânfora ao ombro
a imagem do conga nas águas do Kuango,
ele fica na porta da senzala
de mão no queixo e cachimbo na boca,
varado de angústia,
olhando o horizonte,
calado, dormente,
pensando,
sofrendo,
chorando.
morrendo.
Menotti Del Picchia
Não é meu hábito comentar as minhas publicações, excluindo algum agradecimento ou esclarecimento a quem comenta.
ResponderEliminarMas há excepções, e o poema «NOITE» de Menotti Del Picchia não me deixou indiferente.
O poema é de facto extraordinário, caro Del Picchia!
Viva a Poesia!!!
POETA
Completamente de acordo consigo amigo poeta. A poesia a que faz alusão é de fato extraordinária. Muito boa poesia se lê por aqui!
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