O poeta português, Luís Vaz de Camões, nasceu em Lisboa cerca de 1524 (?). Foi considerado uma das mais importantes figuras da literatura em língua portuguesa, e um dos grandes poetas do Ocidente. A sua obra mais importante são «Os Lusíadas», epopeia enaltecendo os descobrimentos portugueses e outros feitos. Camões faleceu em Lisboa, no dia 10 de Junho de 1580. Celebra-se todos os anos, a 10 de Junho, o «Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades».
Poet'anarquista
Luís Vaz de Camões
Poeta Português por Fernão Gomes
SOBRE O POETA…
Poeta português. As informações sobre a sua biografia são
relativamente escassas e pouco seguras, apoiando-se num número limitado de
documentos e breves referências dos seus contemporâneos. A própria data do seu
nascimento, assim como o local, é incerta, tendo sido deduzida a partir de uma
Carta de Perdão real de 1553. A sua família teria ascendência galega, embora se
tenha fixado em Portugal séculos antes. Pensa-se que estudou em Coimbra, mas
não se conserva qualquer registo seu nos arquivos universitários.
Serviu como soldado em Ceuta, por volta de 1549-1551, aí perdendo um olho. Em
1552, de regresso a Lisboa, esteve preso durante oito meses por ter ferido,
numa rixa, Gonçalo Borges, um funcionário da corte. Data do ano seguinte a
referida Carta de Perdão, ligada a essa ocorrência. Nesse mesmo ano, seguiu
para a Índia. Nos anos seguintes, serviu no Oriente, ora como soldado, ora como
funcionário, pensando-se que esteve mesmo em território chinês, onde teria
exercido o cargo de Provedor dos Defuntos e Ausentes, a partir de 1558. Em 1560
estava de novo em Goa, convivendo com algumas das figuras importantes do seu
tempo (como o vice-rei D. Francisco Coutinho ou Garcia de Orta). Em 1569
iniciou o regresso a Lisboa. No ano seguinte, o historiador Diogo do Couto,
amigo do poeta, encontrou-o em Moçambique, onde vivia na penúria. Juntamente
com outros antigos companheiros, conseguiu o seu regresso a Portugal, onde
desembarcou em 1570. Dois anos depois, D. Sebastião concedeu-lhe uma tença,
recompensando os seus serviços no Oriente e o poema épico que entretanto
publicara, Os Lusíadas. Camões morreu a 10 de Junho de 1580, ao que se diz, na
miséria. No entanto, é difícil distinguir aquilo que é realidade, daquilo que é
mito e lenda romântica, criados em torno da sua vida.
Da obra de Camões foram publicados, em vida do poeta, três
poemas líricos, uma ode ao Conde de Redondo, um soneto a D. Leonis Pereira,
capitão de Malaca, e o poema épico Os Lusíadas. Foram ainda representadas as
peças teatrais Comédia dos Anfitriões, Comédia de Filodemo e Comédia de El-Rei
Seleuco. As duas primeiras peças foram publicadas em 1587 e a terceira, apenas
em 1645, integrando o volume das Rimas de Luís de Camões, compilação de poesias
líricas antes dispersas por cancioneiros, e cuja atribuição a Camões foi feita,
em alguns casos, sem critérios rigorosos. Um volume que o poeta preparou,
intitulado Parnaso, foi-lhe roubado.
Na poesia lírica, constituída por redondilhas, sonetos,
canções, odes, oitavas, tercetos, sextinas, elegias e éclogas, Camões conciliou
a tradição renascentista (sob forte influência de Petrarca, no soneto) com
alguns aspectos maneiristas. Noutras composições, aproveitou elementos da
tradição lírica nacional, numa linha que vinha já dos trovadores e da poesia
palaciana, como por exemplo nas redondilhas «Descalça vai para a fonte»
(dedicadas a Lianor), «Perdigão perdeu a pena», ou «Aquela cativa» (que dedicou
a uma sua escrava negra). É no tom pessoal que conferiu às tendências de
inspiração italiana e na renovação da lírica mais tradicional que reside parte
do seu génio.
Na poesia lírica avultam os poemas de temática amorosa, em
que se tem procurado solução para as muitas lacunas em relação à vida e
personalidade do poeta. É o caso da sua relação amorosa com Dinamene, uma amada
chinesa que surge em alguns dos seus poemas, nomeadamente no conhecido soneto
«Alma minha gentil que te partiste», ou de outras composições, que ilustram a
sua experiência de guerra e do Oriente, como a canção «Junto dum seco, duro,
estéril monte».
No tratamento dado ao tema do amor é possível encontrar, não
apenas a adopção do conceito platónico do amor (herdado da tradição cristã e da
tradição e influência petrarquista) com os seus princípios básicos de
identificação do sujeito com o objecto de amor («Transforma-se o amador na
cousa amada»), de anulação do desejo físico («Pede-me o desejo, Dama, que vos
veja / Não entende o que pede; está enganado.») e da ausência como forma de
apurar o amor, mas também o conflito com a vivência sensual desse mesmo amor.
Assim, o amor surge, à maneira petrarquista, como fonte de contradições, tão
bem expressas no justamente célebre soneto «Amor é fogo que arde sem se ver»,
entre a vida e a morte, a água e o fogo, a esperança e o desengano, inefável,
mas, assim mesmo, fundamental à vida humana. A concepção da mulher, outro tema
essencial da lírica camoniana, em íntima ligação com a temática amorosa e com o
tratamento dado à natureza (que, classicamente vista como harmoniosa e amena, a
ela se associa, como fonte de imagens e metáforas, como termo comparativo de
superlativação da beleza da mulher, e, à maneira das cantigas de amigo, como
cenário e/ou confidente do drama amoroso), oscila igualmente entre o pólo
platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior, manifestação no
mundo sensível da Beleza do mundo inteligível), representado pelo modelo de
Laura, que é predominante (vejam-se a propósito os sonetos «Ondados fios de
ouro reluzente» e «Um mover d'olhos, brando e piedoso»), e o modelo
renascentista de Vénus.
Temas mais abstractos como o do desconcerto do mundo
(expresso no soneto «Verdade, Amor, Razão, Merecimento» ou na esparsa «Os bons
vi sempre passar/no mundo graves tormentos»), a passagem inexorável do tempo
com todas as mudanças implicadas, sempre negativas do ponto de vista pessoal
(como observa Camões no soneto «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades»), as
considerações de ordem autobiográfica (como nos sonetos «Erros meus, má
fortuna, amor ardente» ou «O dia em que eu nasci, moura e pereça», que
transmitem a concepção desesperançada, pessimista, da vida própria), são outros
temas dominantes da poesia lírica de Camões.
No entanto, foi com Os Lusíadas que Camões, embora
postumamente, alcançou a glória. Poema épico, seguindo os modelos clássicos e renascentistas,
pretende fixar para a posteridade os grandes feitos dos portugueses no Oriente.
Aproveitando a mitologia greco-romana, fundindo-a com elementos cristãos, o
que, na época, e mesmo mais tarde, gerou alguma controvérsia, Camões relata a
viagem de Vasco da Gama, tomando-a como pretexto para a narração da história de
Portugal, intercalando episódios narrativos com outros de cariz mais lírico,
como é o caso do da «Linda Inês». Os Lusíadas vieram a ser considerados o
grande poema épico nacional. Toda a obra de Camões, de resto, influenciou a
posterior literatura portuguesa, de forma particular durante o Romantismo,
criando muitos mitos ligados à sua vida, mas também noutras épocas,
inclusivamente a actual. No século XIX, alguns escritores e pensadores
realistas colaboraram na preparação das comemorações do terceiro centenário da
sua morte, pretendendo que a figura de Camões permitisse uma renovação política
e espiritual de Portugal.
Amplamente traduzido e admirado, é considerado por muitos a
figura cimeira da língua e da literatura portuguesas. São suas a colectânea das
Rimas (1595, obra lírica), o Auto dos Anfitriões, o Auto de Filodemo (1587), o
Auto de El-Rei Seleuco (1645) e Os Lusíadas (1572)
Fonte: Astormentas
A DOR QUE A MINHA ALMA SENTE
A dor que a minha alma sente...
Não a saiba toda a gente...
Que estranho caso de amor...
Que desejado tormento...
Que venha a ser avarento,
Das dores da minha dor!
Por me não tratar pior,
Se sabe ou se sente, não a digo a toda a gente!
Minha dor e a causa dela.
A ninguém ouso falar.
Que seria aventurar,
A perder-me ou perde-la,
Pois só em padece-la a minha alma está contente.
Viva no peito escondida... Dentro da alma sepultada...
Ou me mate... Ou me dê vida...
Ou viva eu triste ou contente,
Não quero que saiba a gente!
Não a saiba toda a gente...
Que estranho caso de amor...
Que desejado tormento...
Que venha a ser avarento,
Das dores da minha dor!
Por me não tratar pior,
Se sabe ou se sente, não a digo a toda a gente!
Minha dor e a causa dela.
A ninguém ouso falar.
Que seria aventurar,
A perder-me ou perde-la,
Pois só em padece-la a minha alma está contente.
Viva no peito escondida... Dentro da alma sepultada...
Ou me mate... Ou me dê vida...
Ou viva eu triste ou contente,
Não quero que saiba a gente!
Luís Vaz de Camões
ACHA A TENRA MOCIDADE
Acha a tenra mocidade
Prazeres acomodados,
E logo a maior idade
Já sente por pouquidade
Aqueles gostos passados.
Um gosto que hoje se alcança,
Amanhã já não o vejo;
Assim nos traz a mudança
De esperança em esperança
E de desejo em desejo.
Mas em vida tão escassa
Que esperança será forte?
Fraqueza da humana sorte,
Que quanto da vida passa
Está receitando a morte!
Prazeres acomodados,
E logo a maior idade
Já sente por pouquidade
Aqueles gostos passados.
Um gosto que hoje se alcança,
Amanhã já não o vejo;
Assim nos traz a mudança
De esperança em esperança
E de desejo em desejo.
Mas em vida tão escassa
Que esperança será forte?
Fraqueza da humana sorte,
Que quanto da vida passa
Está receitando a morte!
Luís Vaz de Camões
ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Luís Vaz de Camões
AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões
Sendo difícil distinguir aquilo que é mito ou realidade sobre Camões, e sabendo nós que os mitos, muitas vezes, se alicerçam sobre a realidade, quero lembrar que lhe atribuíram a alcunha de "Trinca-Fortes" porque gostava de ir às fuças dos que tinham a manía que eram bons.
ResponderEliminarPelo que, na presente época, não seria mau aparecerem por aí alguns "Trinca-Fortes".
Quanto à poesia nada há a acrescentar. O homem era mesmo bom!
Em batalha no norte da África, perdeu o seu olho direito, ganhando por esse motivo também a alcunha de «Diabo Zarolho».
ResponderEliminarQuanto à sua obra poética, só mesmo acrescentar: era mesmo MUITO bom!