Inauguração do Complexo Desportivo de Alandroal
Confraternização
INAUGURAÇÃO DO COMPLEXO DESPORTIVO DE ALANDROAL
Discurso de João Grilo, Presidente da Câmara Municipal de Alandroal
É habito em inaugurações dizer-se maravilhas da obra em
causa. Não vai ser o caso hoje.
Podíamos dizer que está muito bonito, que a vista é
magnífica...mas ainda ficava muito por dizer.
É difícil explicar o que passa pela cabeça de um presidente
de câmara na minha circunstância quando tem que escrever umas linhas sobre num
momento como este.
Os sentimentos são contraditórios e por detrás da alegria de
ver concluído um grande objectivo, fica a angustia de saber tudo o que poderia
ser diferente.
Quando iniciámos funções, em 03 de Novembro de 2009, esta
obra estava em andamento há 6 meses (Maio de 2009) sem um cêntimo
pago ao construtor.
Para além disso, estava a ser executado um projecto muito
diferente daquele que tinha sido aprovado para financiamento comunitário e que
nem sequer estava aprovado na câmara municipal.
Nesse projecto, ficavam de fora aspectos tão importantes
como as marcações para rugby e “futebol de 7”, ou o alargamento da vedação.
Assim, foi necessário interromper os trabalhos para fazer as
possíveis alterações de modo a garantir o financiamento comunitário e a
continuidade da obra.
Mais ainda, para esta obra seria necessário um financiamento
bancário de um milhão de euros para fazer face à contrapartida nacional que
nunca chegou a ser autorizado por causa do excesso de endividamento da
autarquia.
Face às dificuldades financeiras da autarquia, e como é
fácil de perceber, foi extremamente difícil encontrar os fundos necessários
para compensar essa falta de financiamento e concluir a obra.
Mas ela aí está!
Mas voltemos atrás, ao início desta história porque, do meu
ponto de vista, foi logo no início, na opção de localização e na filosofia do
projecto, que se escolheram as piores opções.
A Câmara Municipal do Alandroal, à semelhança dos
concelhos vizinhos, teve acesso a uma candidatura a fundos
comunitários para construção do “Primeiro Relvado” sintético do concelho que
incluía bancadas, iluminação e alguns arranjos exteriores. Nesta medida do POVT
(Programa Operacional Valorização do Território) poderia beneficiar de um
financiamento de até 675 mil euros, para um investimento total de 965 mil.
Neste cenário o que fizeram os concelhos vizinhos do nosso
para ter um campo relvado com um mínimo de custos?
Redondo, Borba ou Estremoz adaptaram os campos de futebol
existentes às características do programa e do financiamento.
Nenhum dos municípios vizinhos optou por construir uma
novo estádio de raiz.
Mas o Alandroal tinha que ser diferente. O Alandroal não
podia simplesmente adaptar o antigo campo aproveitando os fundos comunitários.
Não. O Alandroal tinha que se fazer “à grande” – tinha que se fazer, como se
dizia na altura, “o segundo estádio de Braga”, escavado na rocha!
Pois bem. Quanto é que esta opção custou a mais a todos nós?
Só para começar, representou logo 145 mil euros não
financiados pagos pelo terreno.
A seguir, mais 83 mil euros para o projecto, pago como novo,
mas adaptado do de Freixo de Espada à Cinta.
Depois, precisou de mais 200 mil euros não financiados para
terraplanagens.
Os estacionamentos e outros aspectos não financiados
custaram mais 630 mil euros.
Ou seja, num custo total de obra de 2 milhões de euros, 675
mil são financiamento comunitário e 1 milhão e 325 mil são fundos próprios que
a câmara não tinha!
Este é um rácio ruinoso para qualquer câmara!
No total, comprometeu-se com esta obra um milhão de euros a
mais do que era possível e seria desejável.
Só para vos dar uma ideia, face às obras que temos por
fazer, este milhão de euros dava para construir o Pólo Escolar de Terena, o
pavilhão gimnodesportivo da escola do Alandroal (que está sem financiamento) e
ainda fazer campos relvados em Santiago Maior, Terena e Rosário – localidades
onde existe prática desportiva regular e onde esta necessidade é cada vez mais
sentida.
Mas em vez disso está aqui, enterrado debaixo dos nossos
pés!
Por isso deixem-me ser claro:
Esta localização não seria a nossa opção.
Este projecto não seria o nosso projecto.
Não é assim que se gasta dinheiro público.
Mas como todos sabem, não podíamos voltar atrás.
Tentámos corrigi-lo no que foi possível, aproveitar o
financiamento ao máximo e, com muito sacrifício, colocá-lo ao serviço da
população da melhor maneira possível como é nossa obrigação de autarcas
responsáveis.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo que se projectava este
complexo desportivo, desaparecia, por razões que são do conhecimento de todos,
o futebol sénior na sede concelho.
Com a conclusão desta obra poderão voltar a emergir as vozes
que defendem o regresso em força da modalidade nos moldes de antigamente.
Deixem-me que mais uma vez vos fale bem claro: embora
lamente que se tenha chegado a tal ponto, não sinto, neste momento, essa
pressão.
Penso que já todos percebemos que não há, nem vai haver nos
próximos anos, dinheiros públicos que possam sustentar altos voos nesta matéria
e é bom que os sonhadores assentem os pés na relva ou procurem financiamentos
de outras formas.
Estaremos cá para apoiar todas as ideias que
tenham sustentabilidade associada, mas deixem-me dar-vos uma garantia: os
poucos recursos da autarquia vão continuar a ser canalizados para a formação de
jovens nas diferentes modalidades e para o futebol no seu estado mais amador.
Queremos desmultiplicar cada euro que é investido no
desporto pelo máximo de praticantes locais possível.
Enquanto estiver nas nossas mãos, o dinheiro de todos nós
não será usado para que joguem no Alandroal “profissionais” de fora do
concelho.
Aproveito para deixar aqui um apelo à Federação Portuguesa
de Futebol, na pessoa do seu vice-presidente, para que olhe para o momento
dramático que vive o futebol dos escalões jovens e o futebol amador face às
dificuldades das autarquias e das empresas em canalizar recursos para apoiar
estas modalidades.
Sejamos claros, sem o apoio da autarquia não haveria neste
momento no concelho do Alandroal, assim como em outros concelhos do país,
qualquer actividade a este nível.
É por isso urgente encontrar novos modelos de financiamento
destas modalidades. É preciso que o futebol profissional cumpra o seu dever
social de apoiar a formação dos jovens.
Neste campo vão realizar-se os jogos do Campeonato do INATEL
da equipa da Associação Alandroal United.
Neste campo vão jogar e treinar alguns dos escalões de
formação do Centro de Cultura e Desporto de Terena.
Neste campo vai funcionar a escola de rugby do Clube de
Rugby de Juromenha.
Neste campo, o Santiago Maior e o Rosário vão realizar
alguns dos seus jogos e treinos.
Neste campo vão realizar-se torneios e encontros desportivos
mobilizadores da prática desportiva e capazes de trazer visitantes ao concelho.
Neste campo, o agrupamento de escolas, as associações, os
veterenos, os grupos de amigos – de forma organizada e devidamente
regulamentada – vão poder fazer os seus jogos.
Parece-nos que esta já será uma excelente ocupação e
rentabilização de um espaço que se quer de todos e para todos.
Não é preciso “inventar” mais nada!
E oxalá consigamos assegurar no futuro os recursos
financeiros necessários aos funcionamento de todas estas actividades, já que os
custos de manutenção de uma estrutura destas são muito elevados, como todos
podem calcular.
Disponibilizar hoje à população esta obra – com todos os
problemas que ela apresentava, sem o financiamento bancário que era esperado e
no momento difícil que atravessamos – representa para todos nós uma grande
vitória só possível graças à determinação e empenho dos eleitos, mas também ao
trabalho sério, competente e rigoroso dos técnicos da autarquia, responsáveis
pela totalidade do seu acompanhamento.
É graças a este esforço conjunto que estamos a concluir
outras obras que herdámos com problemas semelhantes e que estamos também a
lançar novas obras e a projectar muitas outras.
O Centro Escolar de Santiago Maior já está em funcionamento,
a obra de Requalificação do Interior do Castelo do Alandroal está em andamento.
Na próxima semana têm início as obras da creche de Santiago Maior e já está a
decorrer o concurso público para a obra de Requalificação do Pólo Escolar de
Terena. Só para vos dar alguns exemplos.
Mas no que a esta obra em concreto diz respeito ainda não
podemos ficar por aqui. Há ainda lacunas a corrigir, e como todos podem
constatar, a zona envolvente a este Complexo Desportivo, no lado que coincide
com o acesso à vila, precisa agora de obras de requalificação que não estavam
projectadas.
Já estamos a trabalhar neste projecto e vamos tentar
aproveitar o espaço para criar mais um recinto desportivo onde seja possível
praticar outras modalidades como o ténis, o basquetebol ou o futebol de 5.
Portanto meus amigos, e em conclusão, se soubermos aprender
com os erros do passado, e porque é o futuro que nos interessa e motiva,
podemos dizer que este é um dia de alegria.
Podemos dizer que é um dia de festa para as crianças, para
os jovens e para todos os munícipes que vão a partir de hoje tirar partido
desta infraestrutura.
Muito obrigado a todos.
Fonte: MuDA
Excelente João Grilo, excelente!
ResponderEliminarSacaio