O poeta e tradutor português do neoclassicismo Francisco Manuel do Nascimento, de pseudónimo Filinto Elísio, ou ainda Nisceno, nasceu em Lisboa a 23 de Dezembro de 1734. Pertenceu à sociedade literária «Grupo da Ribeira das Naus», cujos membros adoptavam nomes simbólicos. Filinto Elísio faleceu em Paris, França, a 25 de Fevereiro de 1819.
Poet'anarquista
Filinto Elísio
Poeta Português
SOBRE O POETA…
Poeta português. De origem humilde, tornou-se sacerdote.
Francisco Manuel do Nascimento conviveu com a futura marquesa de Alorna, dela
recebendo o nome arcádico de Filinto Elísio. Pertenceu ao círculo poético do
Grupo da Ribeira das Naus, entrando em disputas com os poetas da Arcádia
Lusitana.
Uma denúncia feita à Inquisição obrigou-o a refugiar-se em
França, em 1778, devido às suas ideias enciclopedistas e liberais. Aí conheceu
personalidades importantes da cultura francesa, como o poeta Lamartine. Com dificuldades
económicas crescentes, viu-se obrigado a escrever, a ensinar e a fazer
traduções para garantir a sobrevivência. Entre os autores que traduziu
encontram-se Chateaubriand (Os Mártires, 1816), Longino, La Fontaine,
D'Alembert, Sóror Mariana Alcoforado (Lettres Portugaises) e Wieland (excertos
de Oberon). As suas Obras Completas foram editadas em Paris (1817-1819, 11
tomos).
Admirador de Horácio, defensor dos ideais iluministas e
enciclopedistas, e das revoluções francesa e americana, a permanência em França
marcou a sua obra. Nesta lamenta o obscurantismo português, evoca a gastronomia
e os costumes pátrios, retrata as dificuldades e a tristeza crescentes da sua
doença e da sua velhice.
O seu estilo segue os preceitos da estética classicista
arcádica, sendo um defensor enérgico do purismo da língua. Apesar deste
formalismo, muitos dos seus poemas reflectem uma grande intensidade emocional,
no que têm de revolta e de sofrimento pessoais, o que faz com que alguns o
considerem já precursor do romantismo. Cultivou praticamente todos os géneros
da poesia clássica.
Fonte: Astormentas
UNS LINDOS OLHOS, VIVOS, BEM RASGADOS
Uns lindos olhos, vivos, bem rasgados,
Um garbo senhoril, nevada alvura;
Metal de voz que enleva de doçura,
Dentes de aljôfar, em rubi cravados:
Fios de ouro, que enredam meus cuidados,
Alvo peito, que cega de candura;
Mil prendas; e (o que é mais que formosura)
Uma graça, que rouba mil agrados.
Mil extremos de preço mais subido
Encerra a linda Márcia, a quem of'reço
Um culto, que nem dela inda é sabido:
Tão pouco de mim julgo que a mereço,
Que enojá-la não quero de atrevido
Co' as penas, que por ela em vão padeço.
Filinto Elísio
Um garbo senhoril, nevada alvura;
Metal de voz que enleva de doçura,
Dentes de aljôfar, em rubi cravados:
Fios de ouro, que enredam meus cuidados,
Alvo peito, que cega de candura;
Mil prendas; e (o que é mais que formosura)
Uma graça, que rouba mil agrados.
Mil extremos de preço mais subido
Encerra a linda Márcia, a quem of'reço
Um culto, que nem dela inda é sabido:
Tão pouco de mim julgo que a mereço,
Que enojá-la não quero de atrevido
Co' as penas, que por ela em vão padeço.
Filinto Elísio
TEM A VIRTUDE O PRÉMIO
Tardio às vezes, sempre merecido,
Tem a Virtude o prémio aparelhado
Ao profícuo talento, ao peito honrado,
Que do dever o stádio tem corrido.
O Sábio, que dos louros esquecido
Só no obrar bem os olhos tem cravado
Inópino também se acha c'roado
Por mãos sob'ranas c'o laurel devido
Útil à Pátria seja, as paixões dome,
Seja piedoso, honesto, afável, justo;
Que no futuro o espera ínclito nome.»
Assim falou Minerva ao Coro augusto,
Pondo no Templo do imortal Renome,
De glória ornado, o teu prezado Busto.
Filinto Elísio
Tem a Virtude o prémio aparelhado
Ao profícuo talento, ao peito honrado,
Que do dever o stádio tem corrido.
O Sábio, que dos louros esquecido
Só no obrar bem os olhos tem cravado
Inópino também se acha c'roado
Por mãos sob'ranas c'o laurel devido
Útil à Pátria seja, as paixões dome,
Seja piedoso, honesto, afável, justo;
Que no futuro o espera ínclito nome.»
Assim falou Minerva ao Coro augusto,
Pondo no Templo do imortal Renome,
De glória ornado, o teu prezado Busto.
Filinto Elísio
SAUDADE EXTREMA
I
Gentil Rola, que sobre o ramo seco,
Desse viúvo freixo, brandas queixas
Espalhas toda a noite, e escutas o eco
Repetir-te mavioso iguais endechas:
II
Não chores. Ouve a meu saudoso canto,
Que excede quanta mágoa arroja a sorte:
Ninguém, como eu padece extremo tanto,
Que a ninguém roubou tanto a crua Morte,
III
Tu viste Márcia: a Márcia, oh Rola, ouviste,
Quanta beleza, oh Céus! quanta doçura!
Tem coração de bronze quem resiste
À dor de a ver no horror da sepultura.
IV
Tu podes ter formosa companhia
Terna e fiel. Filinto desgraçado
Te perdeu a sperança lisonjeira
De achar Márcia em transunto inanimado.
Gentil Rola, que sobre o ramo seco,
Desse viúvo freixo, brandas queixas
Espalhas toda a noite, e escutas o eco
Repetir-te mavioso iguais endechas:
II
Não chores. Ouve a meu saudoso canto,
Que excede quanta mágoa arroja a sorte:
Ninguém, como eu padece extremo tanto,
Que a ninguém roubou tanto a crua Morte,
III
Tu viste Márcia: a Márcia, oh Rola, ouviste,
Quanta beleza, oh Céus! quanta doçura!
Tem coração de bronze quem resiste
À dor de a ver no horror da sepultura.
IV
Tu podes ter formosa companhia
Terna e fiel. Filinto desgraçado
Te perdeu a sperança lisonjeira
De achar Márcia em transunto inanimado.
Filinto Elísio
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