quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

TRÊS POEMAS DE CRAVEIRINHA

No dia 6 de Fevereiro de 2003, morre em Maputo, o grande poeta moçambicano José Craveirinha. Da sua obra, destacam-se por ordem cronológica «Xigubo» de 1964, «Cântico a um Dio de Catrane» de 1966, «Karingana ua Karingana» ou «Era uma Vez» de 1974, «Cela I» de 1980, «Maria» de 1988 e «Haminas» de 1997. Craveirinha foi agraciado com o Prémio Camões no ano de 1991. Ler aqui- «POESIA - JOSÉ CRAVEIRINHA», publicação de 6 de Fevereiro de 2011, ou ainda aqui- «CRAVEIRINHA versus MALANGATANA» de 20 de Dezembro de 2012.
Poet'anarquista
Poemas de José Craveirinha
«Era uma vez»

UM HOMEM NÃO CHORA

Acreditava naquela historia 
do homem que nunca chora. 

Eu julgava-me um homem. 

Na adolescência 
meus filmes de aventuras 
punham-me muito longe de ser cobarde 
na arrogante criancice do herói de ferro. 

Agora tremo. 
E agora choro. 

Como um homem treme. 
Como chora um homem!

José Craveirinha

AFORISMO

Havia uma formiga 
compartilhando comigo o isolamento 
e comendo juntos. 

Estávamos iguais 
com duas diferenças: 

Não era interrogada 
e por descuido podiam pisa-la. 

Mas aos dois intencionalmente 
podiam por-nos de rastos 
mas não podiam 
ajoelhar-nos.

José Craveirinha

A BOCA

Jucunda boca 
deslabiada a ferozes 
júbilos de lâmina 
afiada. 

Alva dentadura 
antónima do riso 
às escâncaras desde a cilada. 

Exotismo de povo flagelado 
esse atroz formato 
da fala.

José Craveirinha

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