terça-feira, 25 de junho de 2013

POESIA - ANTÓNIO CARDOSO

O poeta angolano António Mendes Cardoso, ou simplesmente António Cardoso, nasceu em Luanda a 8 de Abril de 1933. Escritor anti-fascista e com intensa actividade política no MPLA a partir de 1975, esteve preso por duas vezes, em 1959 e em 1961. Foi na prisão que escreveu o livro «21 poemas da cadeia». Como o próprio disse: «a arte é desvendar a poesia onde outros não a suspeitam». António Cardoso faleceu na sua terra natal, a 25 de Junho de 2006.
Poet’anarquista
António Cardoso
Poeta Angolano
SOBRE O POETA...

António Mendes Cardoso (8 de Abril de 1933) foi um escritor angolano.

Colaborou na revista Mensagem, embora seja mais conhecido pela sua colaboração com a revista Cultura II, onde fez parte do corpo redactorial. Por causa das suas ideologias e da linha temática que sempre seguiu, foi preso várias vezes, em Luanda, e no Campo de Concentração do Tarrafal (em Cabo Verde).

Após a independência de Angola, exerceu funções superiores na Rádio Nacional, na Secretaria de Estado da Cultura e foi Presidente da União dos Escritores Angolanos, é ainda citado em várias Antologias de Língua Portuguesa e de outros países da Europa.

«Poemas de Circunstância», obra de estreia de António Cardoso no mundo literário angolano, em 1962, reúne os primeiros textos do autor.

Faleceu em 25-06-2006
Fonte: wikipédia
21 Poemas da Cadeia
Poeta António Cardoso

DRAMA NA CELA DISCIPLINAR

A aranha monstruosa está com apepsia:
Dou-lhe a aprazada mosca sempre a hora habitual,
Mas não galga o violino como já fazia,
Solerte, amarela e negro, para a fatal
Deglutição. E só já reage à terceira
Fumarada do meu cigarro. Enfim, zangada:
Não me lembrei ver se aquela insulsa rameira,
Já tonta, que lhe dei, estaria tocada
Pelo insecticida de horas antes. Farricoco
De moscardos a boa vida ou domador
Falhado, restam-me as paredes e eu — oco
No cerne — estes fonemas a doer, o calor
E o frio; a loucura, os janízaros bem pouco
Amigos, a colite, os versos sem valor...

António Cardoso

ABANDONO VIGIADO

Ler O'Neill
Aqui na prisão,
É como cuspir na careca dum burguês
(Francês, português ou angolês,
Tanto fez ou faz...)
Empanturrado de consideração...
Portanto, meu rapaz,
Desculpa a sem cerimónia,
E puxa-me da cachimónia,
0 sumo de limão
Do verso que te apraz...

António Cardoso

MAGO

Chispa uma estrela
No isqueiro
— Camarada rotineiro
De sonho avulso e barato
Na minha cela —
E por um segundo,
Sou o mago, insulso,
Aziago e pacato,
Que neste dia amargo
Crispa na mão fechada
A mais bela e amada
Estrela do mundo...

António Cardoso

EXÍLIO

Eu vivo na minha terra
Mas estou exilado.
Quem vive nela não sou eu
Mas outro que em mim vive.
A minha terra está por vir
E o meu outro ser vive, vive...
...vive à espera desse porvir.

António Cardoso

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