O poeta angolano António Mendes Cardoso, ou simplesmente
António Cardoso, nasceu em Luanda a 8 de Abril de 1933. Escritor anti-fascista
e com intensa actividade política no MPLA a partir de 1975, esteve preso por
duas vezes, em 1959 e em 1961. Foi na prisão que escreveu o livro «21 poemas da cadeia». Como o próprio disse: «a arte é desvendar a poesia onde outros
não a suspeitam». António Cardoso faleceu na sua terra natal, a 25 de
Junho de 2006.
Poet’anarquista
António Cardoso
Poeta Angolano
SOBRE O POETA...
António Mendes Cardoso (8 de Abril de 1933) foi um escritor
angolano.
Colaborou na revista Mensagem, embora seja mais conhecido
pela sua colaboração com a revista Cultura II, onde fez parte do corpo
redactorial. Por causa das suas ideologias e da linha temática que sempre
seguiu, foi preso várias vezes, em Luanda, e no Campo de Concentração do
Tarrafal (em Cabo Verde).
Após a independência de Angola, exerceu funções
superiores na Rádio Nacional, na Secretaria de Estado da Cultura e foi Presidente
da União dos Escritores Angolanos, é ainda citado em várias Antologias de
Língua Portuguesa e de outros países da Europa.
«Poemas de Circunstância», obra de estreia de António
Cardoso no mundo literário angolano, em 1962, reúne os primeiros textos do
autor.
Faleceu em 25-06-2006
Fonte: wikipédia
21 Poemas da Cadeia
Poeta António Cardoso
DRAMA NA CELA DISCIPLINAR
A aranha monstruosa está com apepsia:
Dou-lhe a aprazada mosca sempre a hora habitual,
Mas não galga o violino como já fazia,
Solerte, amarela e negro, para a fatal
Deglutição. E só já reage à terceira
Fumarada do meu cigarro. Enfim, zangada:
Não me lembrei ver se aquela insulsa rameira,
Já tonta, que lhe dei, estaria tocada
Pelo insecticida de horas antes. Farricoco
De moscardos a boa vida ou domador
Falhado, restam-me as paredes e eu — oco
No cerne — estes fonemas a doer, o calor
E o frio; a loucura, os janízaros bem pouco
Amigos, a colite, os versos sem valor...
António Cardoso
ABANDONO VIGIADO
Ler O'Neill
Aqui na prisão,
É como cuspir na careca dum burguês
(Francês, português ou angolês,
Tanto fez ou faz...)
Empanturrado de consideração...
Portanto, meu rapaz,
Desculpa a sem cerimónia,
E puxa-me da cachimónia,
0 sumo de limão
Do verso que te apraz...
António Cardoso
MAGO
Chispa uma estrela
No isqueiro
— Camarada rotineiro
De sonho avulso e barato
Na minha cela —
E por um segundo,
Sou o mago, insulso,
Aziago e pacato,
Que neste dia amargo
Crispa na mão fechada
A mais bela e amada
Estrela do mundo...
Chispa uma estrela
No isqueiro
— Camarada rotineiro
De sonho avulso e barato
Na minha cela —
E por um segundo,
Sou o mago, insulso,
Aziago e pacato,
Que neste dia amargo
Crispa na mão fechada
A mais bela e amada
Estrela do mundo...
António Cardoso
EXÍLIO
Eu vivo na minha terra
Mas estou exilado.
Quem vive nela não sou eu
Mas outro que em mim vive.
Mas estou exilado.
Quem vive nela não sou eu
Mas outro que em mim vive.
A minha terra está por vir
E o meu outro ser vive, vive...
...vive à espera desse porvir.
E o meu outro ser vive, vive...
...vive à espera desse porvir.
António Cardoso
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