Lançamento «O Tempo dos Deuses - Nova Carta Arqueológica do Alandroal». Texto de apresentação da obra que, para além de científica pretende ser de Arqueologia Pública, para que os não arqueólogos possam igualmente fazer uso dela. Muito obrigado aos autores Manuel Calado e Conceição Roque!
Poet'anarquista
Nova Carta Arqueológica do Alandroal
Autores: Manuel Calado e Conceição Roque
O Tempo dos Deuses. A Nova Carta Arqueológica do
Alandroal
«Texto de apresentação por Conceição Roque»
Agradecimentos
Queria, antes de mais, agradecer a todos os que contribuíram
para que esta obra se concretizasse.
Em primeiro lugar, ao Professor Manuel Calado, que me propôs
fazermos juntos este projecto e me deu a oportunidade, e a honra, de com ele o
trabalhar e, como sempre, aprender e abrir novas perspectivas.
À Câmara Municipal do Alandroal, em particular ao seu
presidente, Dr. João Grilo, por ter acreditado e apoiado o projeto da Nova
Carta, percebendo desde logo o papel fundamental que o património arqueológico
pode ter para o desenvolvimento local.
À faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, pela bolsa
de investigação que me foi concedida e ao seu director, Professor Luís Jorge
Gonçalves, a quem agradeço a atenção que desde o início prestou ao projecto e o
empenho no processo que nele resultou.
Ao Paulo Tatá, que volta a participar na Carta Arqueológica
do Alandroal; desta vez ajudou, e bastante, na elaboração dos mapas.
A todos os que participaram nas novas prospecções, com
especial realce para o Rui Mataloto, com quem percorri os territórios de
fronteira, a Ana Maria Roque, o Carlos Galhardas, o João Coelho e o grupo de
jovens do Alandroal que me acompanhou em algumas saídas de campo ( o João
Bernardino, a Patrícia Fitas, a Joana e a Sara Simplício, a Rita e o André
Carruna.)
Aos que participaram através da informação oral e a toda a
população do concelho do Alandroal.
Porquê uma nova
Carta arqueológica?
A primeira edição da Carta Arqueológica do Alandroal, publicada
pelo município em 1993 e coordenada pelo Prof. Dr. Manuel Calado, surgiu, de
certo modo, como uma obra percussoras dentro do seu género. A sua preparação envolveu
diversos e importantes contributos: O Município, professores e alunos do Centro
de Arqueologia da Universidade de Lisboa, associações e cidadãos locais.
Do trabalho de campo levado a cabo na altura e da compilação
dos dados já existentes, resultou um conjunto de informação que concorreu, de
modo decisivo, para a alteração da visão geral que se tinha da ocupação do
território. Deu, assim, uma importante prestação para o enriquecimento do
panorama arqueológico nacional.
No decorrer do projeto promoveu-se a realização de um curso
profissional que proporcionou a formação de técnicos de campo nas diferentes
vertentes do trabalho arqueológico. Este foi um contributo relevante para o
emprego de jovens da região, em especial se tivermos em conta que a construção
da Barragem de Alqueva anunciava a necessidade de mão-de-obra especializada.
A primeira edição da
Carta arqueológica do Alandroal teve, também, reflexos num aumento do turismo
no concelho ao dar a conhecer e divulgar lugares como a Rocha da Mina, de
alguma maneira ligada ao já conhecido Endovélico. Associados a uma paisagem peculiar,
os sítios arqueológicos mostraram que, mesmo que em pequena escala, são capazes
de atrair público, concorrendo para o desenvolvimento local.
O professor Manuel Calado referiu no seu texto, como as
Cartas arqueológicas se enquadram no conceito de Arqueologia Pública, na medida
em que sendo um trabalho de base científica, pode ser realizado com o
envolvimento e a participação da comunidade, cooperando ao mesmo tempo para o reforço
da auto-estima das populações e para o desenvolvimento local e regional. Vista
à distância de duas décadas, num tempo em que o termo era mal conhecido e pouco
praticado por cá, a primeira Carta Arqueológica do Alandroal foi,
definitivamente, um projecto de Arqueologia Pública.
Contudo, e apesar do seu contributo para a Arqueologia
portuguesa e para o desenvolvimento local, a natureza deste género de obra não
permite dá-la por concluída, ou seja, é um documento aberto, tal como o seu
autor o assume na introdução. O extenso território que o concelho abrange
justificava, por si só, a continuação das prospeções e a realização de uma
revisão.
Todavia, um elemento incontornável na realidade regional veio
reforçar, decisivamente, a necessidade de atualização: a construção da Barragem
de Alqueva.
Em primeiro lugar, as Medidas de Minimização de Impacto sobre
o Património Arqueológico que promoveram diversas e numerosas intervenções
arqueológicas que resultaram num vasto conjunto de novos dados, alguns deles
obrigaram mesmo à reformulação da ideia que se tinha do povoamento na região e
da utilização do território. Esta nova informação obtida necessitava, assim, de
ser compilada, analisada e divulgada.
Em segundo, as alterações previstas para o uso dos solos: A abundância
de água ao dispor de agricultores e outros agentes económicos, facilita o desenvolvimento
de novas práticas agrícolas e o surgimento de empreendimentos turísticos que tornam
particularmente delicadas as áreas junto à cota de enchimento da barragem; as
prospeções realizadas nessa parte do território concelhio foram, e continuam a
ser, necessárias como ações de prevenção.
A Nova Carta
Face ao exposto acredito terem sido reunidas razões válidas e
suficientes para fundamentar a continuação do trabalho iniciado em 1992 e
refletido na publicação da primeira Carta Arqueológica do Alandroal.
Os Novos dados
De entre os muitos dados trazidos pelos trabalhos do Alqueva
destaco:
A arte rupestre que foi, sem dúvida, a grande novidade
trazida pelos trabalhos do Alqueva; constituí uma realidade até à dada
desconhecida nesta larga extensão de rio. Distribuídas por vários núcleos, as
gravuras concentram-se, maioritariamente, no troço do rio fronteiro ao concelho
do Alandroal, onde se encontram os três núcleos mais representativos da arte
rupestre do Guadiana, do lado português.
Também a ocupação, relativamente densa, do Bronze Final e da
I Idade do Ferro se mostrou algo inesperada. O número de sítios encontrados
pertencentes a este último período veio reformular, de forma decisiva, o
cenário até aí conhecido. Estes sítios inserem-se numa rede de povoamento ao
longo da margem direita do rio Guadiana.
Fora do contexto do
Alqueva, outros trabalhos decorreram no Concelho do Alandroal, nestes vinte
anos, quer no âmbito de projetos de salvamento, quer de investigação, como
sejam as escavações na Anta de Santiago Maior, na Rocha da Mina e no São Miguel
da Mota, ou, ainda, o trabalho de mestrado realizado acerca da necrópole da
Rouca.
No que respeita aos resultados obtido durante as prospeções
da Nova da Carta Arqueológica do Alandroal, dos cerca de uma centena de novos
registos destaco, em primeiro lugar:
O núcleo de gravuras
rupestres dos Canhões. Possivelmente relacionadas com a arte rupestre do
Guadiana, apesar de diversas no tema, parecem, à partida, integrar a mesma
realidade cultural e, eventualmente, cronológica.
Realço, igualmente, os quatro conjuntos de pequenos sítios
de Época Romana, cerca de 40, encontrados em diversos pontos do concelho.
Arqueologia Pública
A elaboração da nova Carta Arqueológica pretendeu ser, tal
como o foi a primeira, também um projecto de Arqueologia Pública. Está criada, penso,
uma oportunidade de divulgação das potencialidades arqueológicas que o concelho
nos oferece, tornando-se numa ferramenta de desenvolvimento local e fixação de
identidades.
Ao mesmo tempo, teve a participação de vários elementos da
comunidade local, os informadores e os prospectores.
Os primeiros, são, normalmente, pessoas já com alguma
informação ou sensibilização para o tema. Este modo activo de participação da
população na atividade arqueológica tem adeptos, sobretudo, mas não só, entre as
gentes do campo, ou que dele mais usufruem. Não só sinalizam sítios
arqueológicos novos como informam do seu estado de conservação, movimentação de
máquinas nas proximidades ou atos de vandalismo. Foi graças a estes elementos
da comunidade que registámos, por exemplo, as sepulturas da Garçoa.
Os segundos, os prospectores que participaram na nova Carta,
dividiram-se entre os colegas, já experientes e excelentes colaboradores, os
não arqueólogos, com vontade de descobrir sítios e paisagens, e o grupo de
jovens do Alandroal.
Com estes últimos pretendeu-se realizar uma ação de
Arqueologia Pública, ao mesmo tempo que se procurou testar e analisar formas de
Educação Patrimonial. Através da observação dos resultados obtidos procurou-se
tirar algumas conclusões quanto ao conteúdo das atividades levadas a cabo com
os colaboradores, avaliar a sua eficácia e examinar formas de abordagem e
linguagem utilizadas, dados que foram a base de parte da minha tese de
mestrado.
As atividades desenvolvidas com os jovens permitiram o contato com a
paisagem e estimular a relação com esta; dar a conhecer o território e os
principais sítios arqueológicos; sensibilizar para algumas questões específicas
relacionadas com o património arqueológico do concelho e, ainda, fornecer
noções básicas sobre os vários vestígios existentes, períodos cronológicos,
cartografia e técnicas de prospeção.
Penso que estas são formas de aproximação dos cidadãos à
Arqueologia e ao património arqueológico, e vice-versa.
Conclusão
Para concluir, uma nota pessoal: a realização desta obra foi,
e é, para mim, uma marca de grande importância, tal como o sei que o é para o
professor Manuel Calado, embora que, talvez, por outros motivos.
Estabelece ao mesmo tempo uma marca de continuidade e de novidade
na minha carreira. Tendo participado na primeira Carta Arqueológica do
Alandroal, como aluna do curso de Técnicos de Campo, em muitas ocasiões voltei
a trabalhar no concelho, sobretudo no contexto dos trabalhos do Alqueva, muitas
delas com o professor Manuel Calado.
A realização deste projecto deu-me oportunidade de me
envolver, colaborar e sentir parte de uma comunidade, não muito diferente, mas
que não era a minha, como arqueóloga e como cidadã.
Espero que todos a tomem como uma obra também vossa, que a
desfrutem, utilizem e divulguem.
Conceição Roque,
6 de Julho de 2013
PARABÉNS!
ResponderEliminarMuito bem!
ResponderEliminarOs meus parabéns!
E como se pode adquirir um exemplar de «O Tempo dos Deuses - Nova Carta Arqueológica do Alandroal»?
Muito bem doutora, muito bem!
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