«As Minhas Férias»
Avós e Netos
7- AS MINHAS FÉRIAS
As minhas férias foram em casa dos meus avós. Todos os anos as minhas férias
são lá. A casa dos meus avós é grande mas parece um bocadinho pequena. Tem umas
escadas e uma cave e muito mais quartos que a nossa casa, mas tudo parece um
bocadinho mais baixo e apertado. Uma vez caí das escadas e não me magoei nem
nada. Mas isso foi quando eu só tinha cinco anos. Nessa altura eu não sabia
escrever nem nada porque ainda estava na infantil e agora até subo dois degraus
de cada vez e as pessoas dizem que eu sou muito mexido. O meu avô até me disse
que eu era um super-herói. Disse assim: ah, és tu, Filipe! Achei que era um super-herói
que nos tinha entrado em casa. O meu avô gosta muito de super-heróis ou pelo
menos é o que eu acho porque ele está sempre a falar-me deles.
À mesa, quando os outros crescidos começam a ter conversas
diferentes assim mais sérias e isso, o meu avô fica calado que nem um rato, que
é como diz a minha avó, e depois só diz uma coisa ou outra quando lhe apetece
ou quando se lembra de uma história divertida e então dá gargalhadas muito
altas, mas não altas como quando às vezes ralham alto connosco e sim altas de
fazer uma espécie de cócegas na nossa boca e termos de rir também e também alto
como ele.
As pessoas crescidas normalmente são diferentes. As pessoas
crescidas normalmente não se riem ou riem-se de coisas que não têm graça
nenhuma, pelo menos eu não acho, e às vezes param mesmo de rir a meio do riso
como se uma gargalhada fosse uma coisa feia ou um palavrão muito mau. As
pessoas crescidas não são nada como o meu avô. O meu avô é assim mais redondo e
às vezes até parece que vai tropeçar e tudo. Mesmo quando está calado ou a
dormir na poltrona castanha o meu avô não é nada sério e, como eu costumo
dizer, isso é muito positivo. As pessoas crescidas normalmente não são nada
positivas. As pessoas crescidas normalmente são muito levantadas e direitas e
fazem lembrar árvores daquelas que estão sempre num conjunto de árvores e são
muito iguais às outras todas, como os eucaliptos por exemplo.
Um dia o meu pai foi comigo à mata que é como nós chamamos a
uma floresta que há lá ao pé da casa dos meus avós, para aí a uns 2 km ou 3 km,
e mostrou-me o que eram eucaliptos. Disse assim: estás a ver, Filipe? Isto aqui
são eucaliptos. Eucaliptos. Mas nessa altura eu era muito pequenino e tinha
mais ou menos quatro anos e por isso ainda não sabia dizer eucaliptos. Dizia de
uma maneira diferente e engraçada mas agora já não me lembro, já passou muito
tempo porque isto foi quando eu ainda era um bebé. Aos seis anos é a idade em
que se fica mais crescido e eu já estou quase a fazer sete por isso vou
rebentar a escala e claro já não sou um bebé.
Quando começam as férias vamos de carro para casa dos meus avós. E quando as férias acabam vimos para nossa casa também de carro, é só fazer o caminho todo ao contrário, mas por acaso às vezes parece mesmo que é outra estrada e que não foi por ali que viemos e nessas alturas eu penso para onde é que estamos a ir?
Quando começam as férias vamos de carro para casa dos meus avós. E quando as férias acabam vimos para nossa casa também de carro, é só fazer o caminho todo ao contrário, mas por acaso às vezes parece mesmo que é outra estrada e que não foi por ali que viemos e nessas alturas eu penso para onde é que estamos a ir?
Os meus avós são os pais da minha mãe. Os pais do meu pai
morreram antes de eu nascer ou então quando eu era tão pequeno que não me
lembro das caras deles. Um tio meu também morreu há pouco tempo e eu lembro-me
muito bem da cara dele. A minha mãe disse-me que ele tinha subido para o céu
porque era uma pessoa boa e então eu perguntei à minha mãe o que é que
acontecia às pessoas que não eram tão boas e a minha mãe disse-me que também
iam para o céu e depois eu ganhei coragem e perguntei-lhe e o que é que
acontece às más? E a minha mãe disse que todas iam para o céu e eu aprendi
isso. Deve ser bom estar no céu e passar por cima dos automóveis,
principalmente quando está muito trânsito e as pessoas já estão chateadas de
estar ali.
A minha avó diz: não se diz chateadas, diz-se aborrecidas.
Está bem, Filipe? Está bem, avó. A minha avó quer sempre que eu coma mais e às
vezes ri-se de coisas que eu digo sem ser para rir e eu fico contente e depois
volto a dizer essas coisas mas normalmente à segunda vez a minha avó já se ri
com menos vontade. A minha avó diz que eu sou muito engraçado. Outras vezes diz
que eu sou esperto mas não caço ratos. A minha avó não gosta nada de ratos mas
está sempre a falar neles.
Jacinto Lucas Pires
Jacinto Lucas Pires
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