domingo, 10 de novembro de 2013

«A LUVA», POR FRIEDRICH SCHILLER

10 de Novembro de 1759, nasce o poeta, filósofo e historiador alemão Friedrich Schiller. O poema «A Luva», foi escolhido para assinalar a data de nascimento do poeta. Pode também por aqui- «POESIA - FRIEDRICH SCHILLER», consultar sobre vida e obra deste famoso autor alemão do séc. XVIII. Boa leitura de fim de semana!
Poet'anarquista
«Mulher com as Luvas»
Pintura de Toulouse-Lautrec

A LUVA

Na jaula uiva o leão, cansado de esperar.
Chegou enfim o Rei, tomou o seu lugar.
Chegaram os cortesãos. Espalham brilho e chamas.
Do circo em derredor, gentis, formosas damas.
Rolou férreo portão, o Rei dera o sinal.
Na arena entra o leão com passo triunfal.
Percorre-a com furor, detém-se, avança, pára.
Eriça a juba além, a fauce escancara.
Por fim exasperado atira-se no chão.
Encolhe e estende os nervos. O Rei levanta a mão.
Repete-se o sinal, investe do outro lado,
Com salto muito veloz, um tigre mosqueado.
Encontram-se no circo os dois monstros cruéis.
O tigre, estremecendo, da cauda faz anéis,
Medonhos uivos dá, lançando olhos ardentes,
E bate sem cessar os navalhados dentes.
Por junto do leão passou, torna a passar!
Novo sinal do Rei, e sai fogoso par.
De feros leopardos, que em torno corre e gira...
O tigre sobre os dois carnívoro se atira.
Levanta-se rugindo e rápido o leão,
E todos frente a frente tomaram posição!
A arena está revolta, o eco além rebrama,
Naquele instante cai a luva de uma dama
Ao pé dos animais. A linda Beatriz
Sorrindo e desdenhosa ao namorado diz:
«Crerei no vosso amor, ilustre cavalheiro,
«Se fordes levantar a luva do terreiro.»
De chofre ele se ergueu, do circo em meio e já,
Caminha firme, o rosto nem desmaiado está...
Ajunta a luva ali, e sobe enquanto dura
O pasmo dos que veem tão súbita loucura!
Anseia a turba, o moço tornou-se único alvo
Das vistas. Houve um grito ao verem que ele é salvo!
Vaidosa ao seu encontro lançou-se Beatriz,
Porém o cavalheiro a faz parar e diz:
- Estou pago do que fiz... de vós não quero nada.
Lançou-lhe a luva aos pés, depois desceu a escada.

Friedrich Schiller

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