A 15 de Novembro de 1924, desaparece nas águas do Mar do Norte, o
aviador português Sacadura Cabral. Foi o primeiro piloto mundial,
juntamente com seu amigo Gago Coutinho, a fazer a travessia do Atlântico Sul.
Mas o destino estava traçado... no Mar do Norte, em missão ao serviço do país
e com fracas condições de visibilidade, desaparece Sacadura Cabral, qual D.
Sebastião em manhã de nevoeiro. O cadáver do oficial português nunca seria
encontrado.
Poet'anarquista
Sacadura Cabral
Oficial da Marinha Portuguesa
(Pioneiro na Aviação)
MEMÓRIAS QUASE ESQUECIDAS
Texto por António José Ramos de Oliveira
Texto por António José Ramos de Oliveira
Sacadura Cabral desaparece no mar do norte
“Horas sombrias de tristeza! Horas amargas de ansiedade! Horas dolorosas de
luto!…”
Excerto da notícia do jornal «A Guarda», de 22 de Novembro de 1924, noticiando
o desaparecimento do conhecido piloto aviador Artur Freire de Sacadura Cabral.
Sacadura Cabral
Desaparecido no Mar do Norte
Sacadura Cabral, de nome completo Artur Freire de Sacadura Cabral, nasceu em
Celorico da Beira, no dia 23 de Maio de 1881. Foi um oficial da Marinha de
Guerra Portuguesa e conhecido pioneiro da aviação em Portugal, tendo realizado
com Gago Coutinho, a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul em 1922.
Aluno brilhante da Escola Naval, seria o primeiro classificado do seu curso,
prosseguindo uma carreira militar com distinção. Foi colocado em Moçambique em
1901, navegando pelas suas costas ou efectuando trabalhos hidrográficos, até
que em 1907 conhece Gago Coutinho, trabalhando com ele em missões geodésicas e
geográficas, revelando as suas capacidades como geógrafo e astrónomo. Deste
país parte para Angola onde continua o trabalho de agrimensura ou de
observações astronómicas, ainda na companhia de Gago Coutinho.
Travessia do Atlântico Sul
Oficiais Sacadura Cabral e Gago Coutinho
Oito anos depois regressa à metrópole e graças ao Aero Club de Portugal
consegue ir para a Escola Militar de Chartres, em França, com o objectivo de
tirar o brevet de piloto aviador militar. Em Março de 1916 fez as provas de
brevet com aprovação, frequentando ainda a Escola de Aviação Marítima de Saint
Raphael, onde se especializou em hidroaviões, bem como outras escolas de
técnicas de aperfeiçoamento.
Regressado ao nosso país, incorpora a Escola de Aviação Militar, em Vila Nova
da Rainha, como piloto instrutor e estará na base da primeira unidade de
aviação portuguesa ao adquirir, em França, o material necessário a uma
esquadrilha destinada a defender a região de Niassa, em Moçambique, dos
ataques alemães.
Graças à sua experiência, é encarregado de organizar a aviação marítima
nacional, chegando a Comandante da Esquadrilha Aérea da Base Naval de Lisboa.
Em 1919, ao elaborar um plano de navegação aérea, demonstra ser viável a
travessia aérea de Lisboa ao Rio de Janeiro e dois anos depois realiza a
viagem Lisboa-Madeira, experimentando métodos e instrumentos criados por ele e
por Gago Coutinho, que iriam ser fundamentais na Primeira Travessia Aérea do
Atlântico Sul. Destaca-se o Plaqué de Abatimento, mais tarde denominado
Corrector de Rumos-Coutinho-Sacadura, o qual viria a conseguir definir uma
navegação estimada.
Ilustração de Jorge Miguel
Em 1923 tenta levantar um projecto que permitisse uma viagem aérea de
circum-navegação mas não obtém sucesso. Para obviar esta falha, um ano mais
tarde, é aberta uma subscrição pública que permite a compra de cinco aviões
Fokker 4146, a utilizar numa travessia aérea com destino à Índia. É
precisamente na viagem de Amsterdão, local de origem dos aparelhos, para
Lisboa que Sacadura Cabral viria a morrer, desaparecendo sobre o Mar do Norte,
no dia 15 de Novembro de 1924, nunca tendo sido localizado o seu cadáver. De
certo modo a sua morte não foi em vão. Retomando a ideia de circum-navegação
de Sacadura Cabral, em 1927, o capitão Sarmento de Beires procura realizar a
primeira volta ao mundo em avião mas, mesmo com o auxílio do sextante, da
bússola e do cronómetro de bordo, os obstáculos vão ser enormes,
impossibilitando a prossecução deste objectivo. De facto o excesso de carga e
a falta de autonomia, em termos de combustível, levou ao falhanço da missão.
Sacadura Cabral é considerado um aviador distinto, pioneiro da aviação
mundial, conseguindo ultrapassar as insuficiências técnicas e materiais que na
época em que viveu se faziam sentir.
Sacadura Cabral e Gago Coutinho
Com outros amigos, no hidroavião
No relato acima referido, sob o título «A morte do glorioso herói»… o jornal
«A Guarda» de 22 de Novembro de 1924 refere que … de Norte a Sul uma sombra
fatídica de angústia envolve o país. É uma sombra de tragédia… o bravo que
tanto amava Portugal, o herói que tão alto ergueu a Pátria, morreu abraçado a
ela… no fundo das águas ficaram os seus braços fortes cingindo o motor do seu
avião… os jornais de todo o mundo lembram essa epopeia insigne, nessa hora
trágica, para contar os reconhecimentos da humanidade ao ínclito aviador .
Fonte: jornalaguarda.com/
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