«A Predadora»
Erotismo/ Milo Manara
72- «A PREDADORA»
Emboscada no fundo da sala, ela não perdia de vista
quem entrava. Seu corpo se perdia entre outros corpos, igualmente sarados,
igualmente vestidos com tênues transparências e vagas tessituras. Seus olhos é
que denunciavam sua condição de fera, de fera à espreita, à espreita porque
faminta.
Avaliava as possíveis presas. Tinha fome, mas era seletiva,
não abatia qualquer caça. Queria-os suculentamente imaginativos, capazes de
sucumbir às fantasias, pois os mais literalmente machos não reagiam bem aos
seus ataques fulminantes. Queria-os não muito jovens, pois a seiva se espalhava
prematuramente e deixava-a insatisfeita e expectante. Queria-os com brilho de
inteligência no olhar, pois a ciência de serem vítimas aguçava o prazer do
abate.
Quando o viu entrar, sabia que era chegada a sua hora de
actuar. Observou-o com os olhos de tigresa tranquila e sábia. Umedeceu os
lábios, sensualmente, sem pressa. Jogou o cabelo para trás, enquanto calculava
quantos passos havia entre ela e a vítima.
Ele se sentou, e era bom que estivesse de frente para ela,
pois o abate assim era mais interessante. Ela se levantou. Terminou a bebida
com um único gole. Deu o primeiro passo. Ele já havia percebido seu movimento,
e isso também era bom. Ela podia se demorar, ele esperaria.
Nos passos calculados ela chegou até a vítima. Sem saber
como se comportar, ele a olhava admirado, ligeiramente desconfortável. Ele
ainda não sabia, mas suspeitava seu destino final. Ela, zombeteira, avaliava-o:
era um pouco mais velho do que tinha calculado, um pouco menos pujante do que
seria ideal, mas tinha sido o eleito da noite. Outra vez, umedeceu os lábios.
Ele se levantou, obedecendo a uma ordem não formulada. Ela
se aproximou mais um passo. Ele sorriu. Ela ganhara. Agora tudo era uma questão
de metodologia.
Imobilizou o pulso de sua vítima, puxando-lhe a mão até a
boca e fazendo-o introduzir os dedos entre seus lábios, dois apenas, o
indicador e o médio. De olhos bem abertos e espantados, ele não esboçou uma
reação firme o bastante para detê-la, apenas enrijeceu um pouco o braço,
tentando puxar a mão para trás, para fora da caverna úmida onde a língua,
experiente e sinuosa, percorria os dedos escolhidos, enquanto a boca sugava,
deixando-o cada vez mais vulnerável ao próximo ataque.
Os olhos de caçadora experiente avaliavam todas as reacções
da presa, e seu instinto lhe dizia quando dar o próximo bote. Como uma tigresa,
foi direto à jugular, no caso, um volume ainda discreto que crescia em seu
baixo-ventre. Ele gemeu. Ela gemeu mais alto, parando de sugar os dedos dele
que agora se moviam, tentando capturar a sua língua, dominá-la. Sempre
segurando seu pulso, puxou a mão dele para o seu decote, e empurrou-a para
dentro, provocante e enérgica, rodando em volta do mamilo endurecido,
demonstrando os movimentos que queria que fizesse. Ele obedeceu ao convite,
meio desajeitadamente, desacostumado que estava de ser comandado. Os dedos
úmidos pressionaram o mamilo, que perdia o aspecto de fruta agreste e se
distendia, sedoso e firme, demonstrando toda sua excitação.
Afoitamente, sentindo sua masculinidade se expandir, ele
pretendeu tomar as rédeas da ação. Com a mão livre segurou as ancas da fera que
o atacava e fez menção de puxá-la de encontro a si, procurando beijá-la. Ela
não se furtou, mas mostrou claramente quem dominava, recebendo os lábios dele
em sua boca entreaberta e fincando os dentes na carne macia da língua que se
atrevia a penetrá-la. Ele gemeu de dor, retraiu-se, ela puxou-o de volta,
sugou-lhe a língua dolorida, e esfregou-se nele, agitada pelo sabor do sangue.
Com a coxa abriu caminho entre as pernas dele e imobilizou-o
contra a parede. Os olhos de sua vítima percorreram o recinto, verificando se
os observavam. Achando-se protegido pela penumbra, ele se entregou, dócil e
obediente. Seu corpo desequilibrado se mantinha ereto graças ao apoio da
parede, enquanto ela pressionava os seios túrgidos contra seu peito arfante, ao
mesmo tempo que roçava sua coxa, subindo e descendo a perna entre as dele.
Quando parou de beijá-lo, foi para mover sua boca em direção à orelha incauta,
e para lambê-la, penetrá-la. Seus próprios dedos se haviam intrometido pela
boca indefesa e ainda dolorida da vítima, obrigando-a a aceitar três dedos que
se dividiram, experientes, um pelo meio, sobre a língua febril e ligeiramente
inchada, os outros pelas laterais, próximos aos dentes e às gengivas,
estufando-lhe ligeiramente as bochechas.
Com o instinto da fera que sabe quando sua presa já não pode
mais reagir e começa a arrastá-la para o covil, ela percebeu o momento exacto
para retirar sua coxa, que o mantinha de pernas afastadas, permitindo que ele
recuperasse o equilíbrio para obrigá-lo a segui-la para a porta do banheiro. Lá
dentro, apoiando-se contra a pia, ela empurrou a porta com um dos pés enquanto
puxava-o de encontro a si com a outra perna. A luz, muito mais forte ali do que
no salão, deixou-o perceber que ela estava sem calcinha, mas que usava meias,
presas por ligas, antiquadas, mas eficientemente eróticas.
Com uma violência domada, ela se impacientava contra as
roupas dele, abrindo a fivela de seu cinto, puxando para baixo seus jeans e
cueca, deixando-o sem mobilidade, mas com o sexo desimpedidamente erecto. Ela
não permitiu que ele a despisse e, curvando-se, quase se ajoelhando frente a
ele, abocanhou-o, empurrando-o de encontro à garganta, que se contraiu e
expulsou-o. Ela insistia no movimento e ele começava a destilar um líquido
salgado quando ela parou abruptamente e, com a ajuda da própria vítima,
desfechou-lhe o golpe de misericórdia, deixando que ele penetrasse seu sexo quente
e pulsante, viscosamente odorífico como uma fruta madura.
Ele se sentia esvair, totalmente dominado pela mulher que o
cavalgava com perícia, sem deixá-lo impor o ritmo que preferia. Ela acelerava e
diminuía suas investidas, prolongando o seu prazer, até que, impaciente, com
gemidos guturais que pareciam nascer muito lá dentro, seu corpo perdeu o ritmo
e foi sacudido por espasmos que pareciam debilitá-la. Ele quis se aproveitar do
momento para impor sua vontade, mas a predadora, saciada, já o encarava com
olhos indiferentes. Com um safanão, libertou-se das mãos dele, que a
procuravam. Alcançou as toalhas de papel e enxugou-se, sem se preocupar em
manter sua graciosidade felina. Deu um toque no batom, que borrara, ajeitou os
cabelos com os dedos, relanceando os olhos pelo banheiro, para preparar sua
retirada.
Saiu ligeira, numa espécie de movimento lateral, inesperado.
Ele tentou alcançá-la, mas os jeans enrolados em suas pernas quase o fizeram
tropeçar. Só teve ânimo para fechar a porta do banheiro com o trinco, e
deixou-se cair sentado sobre a tampa do vaso. Tinha que recuperar seu
amor-próprio, sua atitude de macho, mas sentia-se esgotado, usado e, o que era
pior, abandonado. Sabia que ela não voltaria. Com água fria lavou o rosto,
examinando-se no espelho. Sentia o corpo doer das posições a que ela o
obrigara. Com a língua de fora, descobriu as marcas que os dentes da fera
deixaram e que começavam a inchar e latejar. Seu coração começava a voltar ao
ritmo normal, depois do galope de seu abate. Bochechou e cuspiu, e deixou-se
ficar curvado sobre a pia, vendo a água se escoar num torvelinho.
Intimidado, ele receava sair para um mundo onde seu lugar já
não estava mais assegurado.
Lucia Bettencourt
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