«Embriaguem-se»
O Escárnio de Noé, por Giovanni Bellini
(Museu Virtual do Vinho)
73- «EMBRIAGUEM-SE»
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única
questão. Para não sentirem o fardo
horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem
sem
descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas
embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva
verde de um fosso, na solidão
morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar,
pergunte ao
vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que
geme, a tudo que
gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a
vaga, a estrela, o
pássaro, o relógio responderão: “É hora de embriagar-se! Para não serem os
escravos
martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso” Com vinho,
poesia
ou virtude, a escolher”.
ou virtude, a escolher”.
Charles Baudelaire
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