«Memória de Prata»
Memória, por René Magritte
94- «MEMÓRIA DE PRATA»
Meu pai costumava fumar à noite
sentado fora de casa.
O calor do verão inundava o mundo.
Todas as estrelas se reuniam sobre nós
para que nenhuma se perdesse.
Olhava o serro da mina
e ao longe se escutava o som dos moinhos,
o rumor subterrâneo de metais, homens e água enferrujada.
Pensava que a prata era branca, brilhante como a chuva de noite
ou como os reflexos do rio ou da água estancada junto às penhas;
pensava até que iluminava a mina como enorme cascata.
Ignorava que era negra,
que era um verão sufocante
como a espuma da asfixia ou a morte,
e que os homens caíam como novas noites
num túnel sem estrelas, sem vento,
sem um pai fumando ao lado deles.
Carlos Montemayor
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