São Tiago Rio de Moinhos
Ali nas Abas da Serra D'Ossa
Por aqui- «LINGUAJAR»,
POR MANEL CALADO»
Passei na Pedra da Moura
Às abas do Castelão
Com cagunfo, vim-me embora
Sou um ganda valentão!
Do Alfaval ao Convento
E do Roque ao Sozinho
Sou um bechinho de vento
Nascido em redemoinho.
O governo até parece
Que saiu do cu de um burro
É tão besta que apetece
Tratá-lo a coice e murro
Esperneguei-te os olhos
Tu fizeste orelha mouca
Parvoera, tens aos molhos
Mas esperteza, pouca.
Se co teu cantar espantasses
As paxões que me apequentam
Minha amiga, não te maces
Cantorias, as aumentam
Só me aflege é não ter
Sete vidas como o gato
Para te poder dezer
Morre lá que eu já me mato
Grande engano me pregaste
Tão sonsinha e espravoerada
Saíste-me um grande traste
Para mim não vales nada
Nem um testão furado
Pra mandar cantar um cego.
Tive azar, é o meu fado
Enludi-me, na o nego
Coisas do arco da velha
Tem a minha freguesia
Uns, porque lhes dá na telha
Outros têm a mania
Muito enfluído eu andava
No olival, ao rabisco
Veio a guarda: Fora! Ó cava!
O azete na vale o risco.
Eu fui Guadiana acima
Co gado, de mal andar
Ó pé de mim nenguém arrima
Se na quiser apanhar…
Fui pirunêro em gaiato
Até me tornar móral
Pra fazer lume, ia ao mato
Com pão seco no bornal
Dormia numa tarimba
Comia da barranhoa
Um pelico, para a cacimba
Mordiscando uma gamboa
Bubia copos de três
Lá na tasca do Balheco
Jogava de quando em vez
Uma maluta, meio chemeco
Manel Calado
(Amanhã, se quiser cá voltar,
Haverá mais Linguajar!)
Poet'anarquista
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