«O Desejo do Pastor»
Conto de Max Bolliger
162- «O DESEJO DO PASTOR»
Era uma vez um pastor que, para além de algumas ovelhas,
nada mais possuía, a não ser uma flauta que ele mesmo fizera com um ramo de
sabugueiro.
Não passava um dia que ele não a tocasse, às vezes alto,
outras vezes baixinho, às vezes alegre, outras, triste, conforme se sentia no
momento.
Ao tocar, sentia o desejo da perfeita beleza. E a esperança
de vir a encontrá-la inspirava-lhe novas melodias.
Certa vez, quando voltara a tocar na sua flauta, descobriu
um pássaro. Estava pousado no sabugueiro, a escutá-lo.
As suas penas brilhavam com todas as cores do arco-íris.
“Oh!”, pensou o pastor fascinado. “Aqui está finalmente a
beleza que eu procuro.”Aproximou-se devagarinho do sabugueiro para apanhar o
pássaro. Mas quando ia agarrá-lo com as mãos, o pássaro levantou voo e foi
sentar-se no ramo de um pinheiro.
O desejo de o apanhar era tão grande, que o pastor seguiu-o.
Mas, quando chegou junto do pinheiro, o pássaro ergueu-se
nos ares e partiu.
No seu lugar, o pastor encontrou um melro ameaçado por um
gato.
Mal acabara de afugentar o gato, descobriu o pássaro parado
na margem de um regato.
Mas quando o pastor chegou junto do regato, o pássaro
levantou voo.
No seu lugar, o pastor encontrou um peixe preso numa rede.
Mal o pastor acabara de libertar o peixe, descobriu o
pássaro no cume de um monte.
Ao chegar ao cume, o pássaro elevou-se nos ares e voou.
No lugar do pássaro, o pastor encontrou uma flor murcha pelo
calor.
Mal o pastor acabara de regar a flor, descobriu o pássaro à
beira-mar.
Mas, quando o pastor chegou à beira-mar, o pássaro elevou-se
nos ares e voou por sobre a água, em direcção ao pôr-do-sol.
“Ah”, pensou o pastor, “a beleza estava a fazer troça de
mim.”
Desapontado, fez-se ao caminho de regresso a casa e às suas
ovelhas.
Mas, quando chegou ao cimo do monte, diante dos seus olhos
abria-se uma flor maravilhosa.
No regato, esperava-o um peixe. E, no pinheiro, um melro saudou-o com o seu
canto.
Então, o pastor pensou que, afinal, fazia sentido ansiar pela beleza, mesmo que
não fosse possível agarrá-la com as mãos, e continuar, até ao fim da sua vida,
tocando as suas melodias.
Max Bolliger
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