sexta-feira, 4 de julho de 2014

OUTROS CONTOS

«Peças Soltas no Interior da Circunferência», por Eveline Sambraz.

«Villanueva del Fresno»
Anos 20

195- «PEÇAS SOLTAS NO INTERIOR DA CIRCUNFERÊNCIA»

...e contava o tio Lorenzo, rodeado de toda a família, naquela grande cozinha, aquecida por uma enorme lareira, na sua casa nos arredores de Villanueva ... – (eu e a Evita, fascinadas por aquela personagem: O tio Lorenzo, com os seus oitenta anos, alto e  magro, com os bigodes caídos no canto dos lábios, os olhos cinzentos muito escuros e com uma voz de barítono, calmamente, falava da sua vida durante a guerra civil, dos seus companheiros dessa época e de um encontro memorável que tivera com eles muitos anos depois). Fora no fim da década de cinquenta ou princípio da de sessenta – já não se lembrava bem.

Falava assim: “Os olhos de don Ernesto brilhavam de satisfação. Não parava de tomar notas, naquele pequeno caderno que sempre o acompanhava. O vinho caseiro, o cozido de grabanços, vagens, batatas e abóbora, para além das carnes, evidentemente, tinham elevado ao máximo, entre os presentes, a boa disposição. Lorenzo contava, com grande soma de pormenores, esse almoço memorável...don Ernesto, Ernest Hemingway, ele mesmo, estava sentado no outro lado da mesa, naquela taberna de Villanueva del Fresno, local de encontro combinado para o almoço que juntava à mesma mesa vários companheiros que tinham passado juntos por grandes trabalhos durante a guerra civil de Espanha.

Fora em 1959 ou 1960. Lorenzo já não tinha bem presente o ano em que decorrera esse almoço. Corria o mês de Junho. Lorenzo soubera que don Ernesto se encontrava em Badajoz para acompanhar o matador António Ordóñez – ou seria Luís Miguel Dominguín? – já não se lembrava bem... bom... um dos dois seria! Ou seriam os dois na mesma tarde? mano a mano! Para animar a fiesta! O matador (ou matadores)  iria tourear numa das corridas de touros, por ocasião da anual Feira de São João, que se realiza naquela cidade.

Quando teve conhecimento da presença do escritor norte americano, na cidade capital de província, entrou em contacto com o seu velho amigo e companheiro de muitas aventuras e desventuras, Manuel Ortíz, que por essa altura vivia nos arredores de Villanueva del Fresno, para lhe propor que procurassem don Ernesto e reviverem, nem que fosse apenas por algumas horas, tudo aquilo porque tinham passado em Madrid nos idos de 1936. Esse amigo, Manuel Ortiz, era fotógrafo e acompanhara don Ernesto quando este, logo no início da guerra civil, trabalhara, como jornalista correspondente, para vários jornais americanos. Lorenzo prestava serviço como motorista e intérprete  até a viatura ser requisitada pelos republicanos. A partir daí, por não haver automóvel, ficara apenas como amigo e companheiro, ajudando em tudo o que fosse possível. Até ao fim. Até o trio se desfazer pelas contingências da guerra.

Manuel Ortiz mandou dizer que teria muito gosto em voltar a encontrar os velhos companheiros, mas que não poderia ir a Badajoz, pois estava preso a uma cadeira de rodas e já não tinha saúde para esse tipo de deslocações. Para abreviar, direi apenas que Lorenzo, após várias tentativas de contacto falhadas, finalmente conseguiu que don Ernesto se encontrasse com eles naquela taberna.

«Don Ernesto»
Hemingway e sua Mulher em Cuba

Fora uma tarde memorável. Ernest Heminghway chegara acompanhado por alguns membros da quadrilha e por vários outros elementos da corte que sempre segue os matadores de touros nas suas digressões. À sua espera estavam Lorenzo e Manuel Ortíz, que já tinham providenciado o almoço junto do dono da taberna. Seria cozido, como todos gostavam. Depois, foi um nunca acabar de desfiar recordações. Tudo veio à baila. Desde aquela vez em que se viram debaixo de fogo, na frente da batalha de Guadalajara,  em que os italianos tinham levado uma coça, até às noitadas em Madrid, já cercados por quase todos os lados. Enfim, nunca, naquela taberna, se tinham visto três velhos tão bem dispostos. Don Ernesto, falando castelhano, com um sotaque muito carregado, dizia que tinham sido os melhores tempos da sua vida. Talvez tenham sido, uma vez que, uns anos depois, poucos, meteu o cano da espingarda na boca e disparou. Foi então que o tio Lorenzo contou a sua passagem por Valle de los Caídos, relato que empolgou todos os presentes, como já disse“.

«Valle de los Caídos»
Monumento à Exaltação Franco-Fascista

Não vou agora maçá-los com esse relato. Apenas trouxe este assunto à conversa porque, desde que chegáramos a Villanueva, ainda não tinha visto o tio Lorenzo entusiasmado fosse com o que fosse. Dessa vez, sim. Relatou-nos o seu reencontro com o escritor norte americano com todos os pormenores.

E nestas coisas, as conversas são como as cerejas, atrás de uma vem sempre outra. Foi a vez do meu pai e do tio Francisco explicarem, também com grande soma de pormenores, as suas actividades durante a guerra civil e as consequências que daí advieram para eles e para toda a família. Foi a ocasião de voltar a falar do suicídio da tia Rosalía e da morte do tio Rufino, acontecimentos trágicos que, de certo modo, também estavam ligados à guerra. Foram quase cinquenta anos da vida da família que foram passados em revista nesses dias de permanência em casa do tio Lorenzo. Tanto eu, como a Evita, sabíamos que a nossa família era um poço de mistérios e segredos, mas nunca imaginámos que esses mistérios e segredos tivessem tal dimensão. E ficámos então a saber que em...
1937

...eram quatro horas de uma tarde de fim de verão, num pequeno povoado alentejano, à beira do rio Guadiana, dois homens, com ar impaciente, esperavam na taberna, por alguém que tardava em chegar. Eram eles, de seus nomes completos, João António Rodriguez Potra e Rufino José Rodriguez Potra. Eram irmãos, como se calcula.

Pouco depois, tocado pelas esporas, um cavalo entrou na rua principal do povoado, esbaforido, levantando uma nuvem de pó, e espantando as galinhas, fazendo com que alguns olhares de espanto e medo se fixassem no cavalo e no cavaleiro. A aldeia era composta por quatro ou cinco ruas, de terra batida, que convergiam para um largo em que se destacava o edifício do quartel da Guarda Fiscal. Era nesse largo que se situava a taberna do António da Cinza, a única do povoado, diga-se. No lajedo, em frente da taberna, estavam sentados, em volta de uma mesa, resguardados do sol por uma frondosa latada, os dois indivíduos acima referidos. Vestiam fato completo, chapéu e corrente de relógio, parecendo, assim, ataviados para qualquer acto solene, digamos que para funeral ou casamento. Nada mais enganador, esperavam apenas por Paco Potra, também conhecido por el “Perro” Potra, ou por seu nome verdadeiro, Francisco José Rodriguez Potra, e que estava atrasado em relação à hora marcada. Devem juntar esta personagem às outras duas que já conhecem, pois é em volta delas e de algumas mais, que vai decorrer o que vos quero contar.

«El 'Perro' Potra»
El Comandante

Montejuntos era, em 1936, um pequeno povoado com algumas centenas de habitantes, que apenas se distinguia dos outros povoados em redor por ali estar instalado o comando da companhia da Guarda Fiscal que controlava a fronteira desde Elvas até Monsaraz, ao longo de sessenta quilómetros de rio Guadiana. O comandante da companhia vivia no primeiro andar do edifício do quartel e já se tinha apercebido da presença dos irmãos Rodriguez Potra na taberna do António da Cinza. Não lhe agradava a presença dos irmãos na aldeia, pois estes eram considerados pelas autoridades “personas non gratas”. Justamente ou não, tinham fama de brigões, de contrabandistas e de gostarem de mulheres alheias, e quando em ocasiões de muchas cañas davan saludos a los rojos. Até se falava de morte de homem, no entanto, pese embora o empenho dos tribunais, isso nunca se provara. Corriam ainda rumores de que a família da vítima, gente de posses, encomendara a morte de Rufino a uns falangistas, dizia-se serem três, que se tinham destacado nas matanzas de Badajoz, mas afinal quem apareceu a boiar no rio, esfaqueado, foi um dos falangistas. Nos outros dois nunca mais se ouviu falar. Havia quem dissesse que jaziam no fundo do rio.

Cavalo e cavaleiro chegaram, já a passo, ao tronco das rédeas, onde se encontravam as mulas dos Rodriguez Potra. Francisco desmontou e acalmou o sangue nervoso do cavalo que se exaltou à vista das duas mulas. Prendeu o animal e caminhou para a taberna.

Da janela do seu gabinete, o comandante da Guarda Fiscal, olhou para o homem que caminhava lentamente, como que querendo ser visto, calças de cavaleiro com cintura subida, colete e jaqueta abertos, com os cordões caídos, os safões a proteger-lhe as pernas e o chapéu mazanttino de aba larga, as esporas de prata tilintando na passada larga, mirando atentamente em volta e tentando reconhecer, na penumbra da latada, os dois homens que o esperavam. O oficial pensava, apreensivo: “Vão juntar-se os três. Não é decerto por bom motivo”

«Montejuntos»
Antigo Posto da Guarda Fiscal

Francisco, que era um homem alto, teve que baixar a cabeça para entrar no pátio em que se encontravam os outros dois, que se levantaram quando ele chegou. Eram também altos mas não tanto como Francisco. “ Buenas tardes, hermanos “, disse naquela sua maneira de falar, muito própria, em que sempre misturava palavras portuguesas com castelhanas. “Buenas“,  responderam os outros dois em uníssono. “Como está a mana Rosalía“, quis, de imediato, saber Rufino. “Há vários dias que está acostada, não quer erguer-se da cama “, respondeu Francisco, enquanto fazia sinal aos outros para se sentarem.

Rufino e João eram gémeos, embora houvesse entre eles algumas diferenças físicas que saltavam à vista. Eram os dois altos e magros, como já disse, mas enquanto Rufino era moreno e tinha o cabelo negro, João tinha a pele muito branca, pálida mesmo, e o cabelo era de um tom de cobre velho. A pele de João constituíra sempre uma preocupação para toda a família, sobretudo para sua mãe, D. Matilda, que sempre o obrigara a esconder a pele do sol, e o impedira de participar, quando jovem, em todas as brincadeiras ao ar livre. Ainda hoje, de verão ou de inverno, usava sempre luvas e chapéus de aba muito larga. Os dois tinham os olhos cinzentos, muito escuros. Isso parecia ser uma característica de família, pois Francisco também tinha os olhos dessa cor. A idade de todos andaria entre os vinte e cinco e os trinta anos, sendo Francisco o mais velho.

Eram todos irmãos, como já se percebeu, no entanto, havia uma particularidade nesse grau de parentesco: Eram irmãos apenas por parte da mãe. Francisco e Rosalía, aquela que acabou por se suicidar, eram filhos de um primeiro casamento de D. Matilda, a matriarca da família, enquanto Rufino, João e as outras duas irmãs, Guadalupe e Rosario eram filhos de um segundo casamento. Mas não nos precipitemos, cada coisa a seu tempo e em seu lugar. Prestemos por agora toda a atenção à conversa que se seguiu à chegada de Francisco. “Temos estado a pensar porque nos teria mandado chamar o mano Francisco exactamente para a taberna que fica mesmo em frente da caserna dos azuis“ disse Rufino, logo que todos se sentaram. Francisco ia responder, mas nesse momento chegou o dono da taberna, António da Cinza, e foi-lhe mandado trazer mais um jarro de vinho do Redondo e também mais um púcaro. Desculpem a insistência no nome do dono da taberna, mas como terá um papel de certa importância no desenrolar dos acontecimentos, queremos que o vão fixando. Vamos ainda voltar para trás e explicar aquela alusão de Rufino à caserna dos azuis: (É que os guardas fiscais eram assim chamados por causa da cor dos seus bivaques). Na mesma altura foi ainda encomendada uma caldeta de peixe do rio para as dez horas da noite. Agora sim, já com o jarro de vinho e o púcaro à frente, Francisco respondeu ao irmão: “É mesmo nesta bodega que nosotros tenemos que estar hoy. E tenemos que fazer algo que se quede en la memória desta gente, para que um dia, se necessário, possamos dispor de testemunhos“. Os outros dois, sem revelarem grande surpresa, ficaram à espera de mais explicações. Francisco, antes de continuar, levou o púcaro à boca e de uma só vez bebeu o vinho. “És hoy que vamos abater el palomo“. disse de seguida, emborcando outro púcaro de vinho. Depois, durante cerca de duas horas, explicou com grande quantidade de pormenores o que ia passar-se nessa noite.

Entretanto tinham bebido mais dois jarros de vinho acompanhados de uma morcela assada que o taberneiro tinha trazido sem que lhe fosse pedida. Assim, fazendo tempo para a caldeta, ainda jogaram com um parceiro de ocasião, umas partidas de manilha, e deram aos animais, que continuavam presos ao tronco das rédeas, uma ração de favas com palha.

Finalmente o taberneiro anunciou que o jantar estava pronto. Convidaram para a janta o parceiro das partidas de manilha e lá foram os quatro comer a caldeta, sempre lembrados pelo António da Cinza que esta estava feita à sua moda.

«Notícias Calipolenses»
1º Número da Revista Callipole

Vamos deixá-los jantar enquanto eu lhes conto o que aconteceu nessa noite, transcrevendo uma local do jornal “Notícias Calipolenses “ que se publicava, por essa época, em Vila Viçosa. Rezava assim: “Ontem à noite, quando regressava a casa, vindo da sua quinta, foi cobardemente assassinado o Sr. António Pombo. Segundo o comandante do posto da Guarda Nacional Republicana, quando o nosso insigne conterrâneo, passava na sua charrette, junto à praça de touros, no sítio dos Capuchos, foi alvejado com um tiro que lhe acertou mesmo entre os olhos, tendo provocado a sua morte imediata. Ainda segundo a mesma fonte, a bala que matou o Sr. António Pombo é de calibre militar, o que nos faz recordar que a vítima era um empenhado partidário dos nacionalistas do General Francisco Franco Bahamonde, caudilho da guerra civil de Espanha, e que este cruel assassínio só pode ser obra daqueles que em Portugal, estão a soldo do comunismo internacional, pois só esses têm possibilidade de possuir armas com essas características. Estamos certos que as autoridades rapidamente chegarão a conclusões e o assassino será preso em breve. Na nossa edição de amanhã daremos conta de mais pormenores desta terrível tragédia que está a indignar a melhor sociedade da nossa vila “. Fim de citação.

Enquanto acontecia meterem uma bala entre os olhos de um partidário da causa nacionalista espanhola, a cerca de trinta quilómetros, os Rodriguez Potra, com o seu convidado, acabavam de jantar e entravam naquilo a que por aqui se chama bebidas brancas, isto é, aguardentes, brandys, etc... etc...  O convidado, don Miguel da Mota, conceituado lavrador das redondezas, também de ascendência extremeña, bastante mais velho que os três irmãos, queria à viva força que o acompanhassem a sua casa para os brindar com um conhaque que lhe tinha sido enviado por um amigo francês.

Durante o jantar, o comandante da Guarda Fiscal, passara pela taberna duas ou três vezes, e vira com desgosto a familiaridade com que já confraternizavam os Rodriguez Potra e don Miguel da Mota. Os mais bem bebidos pareciam ser o lavrador fidalgo e o mais velho dos irmãos.

Fizeram a vontade ao velho lavrador e lá abalaram, já noite fechada, depois de a muito custo terem subido para as montadas, perante os sorrisos condescendentes dos restantes fregueses da taberna e dos cuidados do taberneiro.

Quando chegaram ao monte da Mota, residência do lavrador, foi um desassossego pegado, com a filha do dono da casa a esmerar-se para receber bem os convidados, de quem conhecia as famas, e admirada por o seu velho pai acompanhar com tais indivíduos. Quem diria, é que tal nunca se vira! Foram tais as libações que acabaram por dormir todos no monte da Mota, já que não estavam em condições de voltar a subir para as selas. Tudo isto no meio de grande divertimento de todos, incluindo a criadagem, pois embora os copos fossem muitos, os Rodriguez Potra, grandes tocadores de guitarra espanhola, ainda se esforçaram, tocando e cantando, algumas modas da Extremadura.

Enfim, uma noite que ninguém esqueceria tão cedo, por este motivo e por outros de que falarei lá mais para a frente.

Para que os acontecimentos tenham algum sentido, vou agora transcrever, na íntegra, o que disse o jornal “Notícias Calipolenses “, no dia seguinte à morte do Sr. António Pombo: “Conforme ontem prometemos, vamos hoje desenvolver com maior soma de pormenores, os infaustos acontecimentos que deixaram toda a comunidade mergulhada em estado de choque e à espera que rapidamente se faça justiça, já que a vítima era uma pessoa da melhor sociedade calipolense. Tanto quanto sabemos, as autoridades já têm suspeitas bem fundamentadas quanto à autoria do cobarde assassínio e esperam apenas por ordens superiores para proceder à prisão dos culpados. Queremos lembrar que o infortunado Sr. António Pombo, para além de pertencer à vereação da nossa Câmara Municipal, presidia à Sociedade Calipolense de Sabões, fazia parte da Comissão de Desenvolvimento de Vila Viçosa e participava activamente em várias outras organizações, nomeadamente na direcção local da União Nacional e na Mesa da Misericórdia da nossa bem amada vila. A nível informal, pertencia ao grupo de amigos dos nacionalistas espanhóis, tendo-se destacado pela sua participação nas brigadas, que mais ou menos por toda a zona raiana, recolhem e prendem os fugitivos republicanos e os entregam em Badajoz. Aguardemos, pois, o desenrolar dos acontecimentos. “---

Assim mesmo, já havia suspeitos, faltavam apenas as ordens superiores para prender, diziam as notícias. Ordens essas que não demoraram muito a chegar. No próprio dia do funeral do António Pombo, foram presos os três irmãos Rodriguez Potra.

Francisco fora preso em sua casa, no monte das Courelas, quando se preparava para  continuar a domar um potro que já o havia derrubado várias vezes da sela; Rufino, quando fechava a porta da sua loja, na rua de Três, no Alandroal; Finalmente, o João fora apanhado pela Guarda Nacional Republicana quando, acompanhado das suas irmãs Guadalupe e Rosário, regressava de uma visita ao Sr. don Miguel da Mota e a sua filha, visando pedir desculpas por eventuais desfeitas ocorridas na noite de todos os excessos.

«Maria da Conceição Mota»
A Filha do Lavrador (JPGalhardas)

- nota da narradora -
(Se me permitem... e desculpem por interromper a narrativa, e também porque a ocasião não seja a mais indicada, mas não queria deixar de fazer aqui uma pequena observação para assinalar a troca de olhares que Guadalupe e Rosário surpreenderam, várias vezes, entre o irmão João António e a filha do lavrador que, por sinal, tinha um sorriso luminoso e uns bonitos cabelos ruivos, que emolduravam um rosto coberto de sardas. Maria da Conceição Mota, assim se chamava. Esses dois, Maria da Conceição e João António, viriam a ser os meus pais. Viveram um bonito romance de amor. Lá mais para a frente, se para tanto houver disposição e vontade, vos contarei como aconteceu. Para já, apenas gostaria de deixar registado que se conheceram nas vésperas da prisão do João António....

Eveline Sambraz

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