«O Príncipe e o Génio»
Arthur Rimbaud, por Isabelle Rimbaud
302- «O PRÍNCIPE E O GÉNIO»
Um Príncipe estava insatisfeito por nunca se haver
aplicado senão em aperfeiçoar as generosidades vulgares. Previa no amor
revoluções surpreendentes, e supunha suas mulheres capazes de algo melhor que
essa complacência entremeada de céu e de luxúria. Quis ver a verdade, a hora do
desejo e da satisfação essenciais. Fosse ou não uma aberração de piedade, assim
o quis. Possuía pelo menos um poder humano bastante considerável.
Todas as mulheres que o haviam conhecido foram assassinadas.
Que devastação no jardim da beleza! Sob o sabre, ainda o bendiziam. Não ordenou
outras novas. — As mulheres reapareceram.
Matava a todos que o seguiam, após a caça ou as libações. —
E todos o seguiam.
Divertia-se em degolar os animais de luxo. Mandou incendiar
os palácios. Arrojava-se sobre as pessoas e as talhava em postas. — A multidão,
as cúpulas douradas, os graciosos animais subsistiam.
Pode-se extasiar na destruição, rejuvenescer na crueldade! O
povo não murmurou. Ninguém trouxe o concurso de seu parecer.
Uma noite galopava altivamente. Apareceu um Génio, de uma
beleza inefável, inadmissível mesmo. De sua fisionomia e de seu porte emanava a
promessa de um amor múltiplo e complexo! de uma felicidade indizível,
insuportável mesmo! O Príncipe e o Génio se aniquilaram provavelmente na saúde
essencial. Como não haveriam de morrer disso? E então morreram juntos.
Mas esse Príncipe expirou, em seu palácio, numa idade
esperada. O Príncipe era o Génio. O Génio era o Príncipe.
Falta ao nosso desejo a música adequada.
Arthur Rimbaud
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