22 de Dezembro de 1989, morre
o escritor e dramaturgo irlandês Samuel Beckett, aos 86 anos, Prémio Nobel da Literatura.
Poet'anarquista
«A Colher»
Colher Cerimonial/ Civilização DAN
Libéria - The Art of
Africa
366- «A COLHER»
Excerto
Falar de gerações exige, então, o breve esclarecimento:
trata-se da geração que partilha e acompanha a minha vida de fora ou a minha
vida de dentro? É que tendo duas vidas tenho assim também duas possibilidades
de me ligar a outras pessoas humanas, supondo aqui que o termo de geração se
refere exclusivamente aos bípedes com biblioteca e tecnologia, e não alude aos
animais com os seus excrementos ou às plantas insensatas e verdes. Se o cão da
vizinha não faz parte da minha geração e a vizinha sim, pois bem, eis um
problema que também poderia ser pensado.
Mas o que quero dizer é isto: há pessoas (fiquemos nelas)
que pertencem à minha geração, considerando a vida de fora, e pessoas - outras
pessoas - que pertencem à minha geração, considerando a vida de dentro.
Os meus contemporâneos da vida que existe um milímetro acima
da pele são aqueles, então, com quem posso partilhar acções; no limite: o meu
contemporâneo desta vida 1, é aquele que eu posso assassinar, com um tiro bem
colocado, ou amar - fisicamente falando (com um coração bem colocado, como
diriam os românticos para manter a simetria da frase, ou com a pele viril e
erecta como diriam os de gosto mais simples).
Os meus contemporâneos da vida de dentro, esses, são aqueles
cujas ideias ou imaginações se aproximam das minhas ideias ou imaginações.
Estes contemporâneos da minha vida 2 podem não ser contemporâneos da minha vida
1 e, neste caso, eu não os posso matar, nem despir ou abraçar - fisicamente
falando, sempre.
Samuel Beckett
Este excerto de Beckett é soberbo!
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