sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

OUTROS CONTOS

«A Morte Sem Mestre», conto poético por Herberto Helder.

«A Morte Sem Mestre»
Herberto Helder

383- «A MORTE SEM MESTRE»

Um profundo exercício sobre a vida e a norma. Um poema inteiro, feito de cinzas e restos. 
Debaixo da pele, despida de ismos, o poeta deambula entre as trevas e a luz e, no gesto, constrói a esperança de um território primordial - o eu nu. Uma inquietação levada à alma. Sem disfarces: «Esta é a minha Elegia».

e só agora penso:
porque é que nunca olho quando passo defronte de mim
mesmo?

para não ver quão pouca luz tenho dentro?

ou o soluço atravessado no rosto velho e furioso,
agora que o penso e vejo mesmo sem espelho?
- cem anos ou quinhentos ou mil anos devorados pelo
 fundo e amargo espelho velho:
e penso que só olhar agora ou não olhar é finalmente
o mesmo

Herberto Helder

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