«Nenhum Caminho para o Paraíso»
Conto de Charles Bukowski
424- «NENHUM CAMINHO PARA O PARAÍSO»
Eu estava sentado em um bar na avenida Western. Era perto da
meia-noite e estava metido em uma das minhas habituais confusões. Quero dizer,
você sabe, nada dá certo: as mulheres, os trabalhos, a falta de trabalhos, o
tempo, os cães. Por fim, você simplesmente senta em uma espécie de estado de
transe e espera como se estivesse no banco da parada de ônibus aguardando a
morte.
Bem, estava sentado lá e então chega essa mulher com cabelo
preto e longo, bom corpo, olhos castanhos e tristes. Não me virei para olhá-la.
Ignorei-a, mesmo ela tendo sentado no banco ao lado do meu, quando havia uma
duzia de outros lugares vagos. Na verdade, éramos os únicos no bar, exceto pelo
balconista. Ela pediu um vinho seco. Depois me perguntou o que eu estava
bebendo.
- Scotch com água.
- Dê-lhe um scotch com água - ela disse ao balconista.
Bem, isso era incomum.
Abriu a bolsa, removeu uma pequena gaiola de arame e tirou
algumas pessoas pequenas e as colocou no balcão. Tinham todos aproximadamente
dez centímetros de altura e estavam vivos e bem vestidos.
Havia quatro deles,
dois homens e duas mulheres.
- Fazem desses agora - ela disse. - São muito caros.
Custaram quase dois mil dolores cada um quando comprei. Agora estão chegando
aos 2.400 dólares. Não sei como são feitos, mas provavelmente é coisa fora da
lei.
As pessoas em miniatura estavam caminhando por cima do
balcão. Repentinamente um dos pequenos homens deu um tapa na cara de uma das
mulheres.
- Sua vagabunda - ele disse - , já chega!!
- Não George, você não pode - ela gritou -, eu te amo! Vou
me matar! Tenho que ter você!
- Não me importo! - disse o pequeno sujeito e puxou um
cigarrinho e o acendeu. - Tenho direito de viver.
- Se você não a quer - disse outro sujeitinho -, fico com
ela, eu a amo.
- Mas eu não quero você, Marty. Estou apaixonada pelo
George.
- Mas ele é um idiota, Anna, um idiota completo!
- Eu sei, mas o amo de qualquer forma.
O idiotinha caminhou pelo balcão e beijou a outra
mulherzinha.
- Estou com um triângulo amoroso em andamento - disse a mulher que havia me pagado uma bebida. - Esses são Marty e George e Anna e Ruthie. George vai se dar mal, muito mal. Marty é meio quadrado.
- Não é triste ver tudo isso? Errr, qual o seu nome?
- Dawn. É um nome terrivel. Mas é o que as mães fazem com
suas crianças às vezes.
- O meu é Hank. Mas não é triste...
- Não, não é triste observar isso tudo. Não tive muita sorte
com os meus próprios amores, péssima sorte, aliás...
- Passa o mesmo com todos nós.
- Parece que sim. De qualquer forma, comprei essas
pessoinhas e agora fico olhando elas. E é como ter e não ter esses problemas.
Mas fico muito excitada quando começam a fazer amor. É aí que fica dificil.
- São excitantes?
- Muito, muito excitantes. Meu Deus, me deixam louca!
- Por que você não os obriga a fazer sexo? Quero dizer
agora. Ficaremos olhando juntos.
- Não se pode forçá-los. Têm de fazer por conta própria.
- Com que frequencia acontece?
- Oh, eles são bem bons. Quatro ou cinco vezes por semana.
Estavam caminhando pelo balcão.
- Escute - disse Marty -, me dê uma chance. Apenas uma
chance, Anna.
- Não - disse Anna. - Meu coração pertence ao George. Não
pode ser de nenhuma outra maneira.
George estava beijando Ruthie, apalpando seus peitos. Ruthie
estava ficando excitada.
- Ruthie está ficando excitada - Eu disse a Dawn.
- Está, está mesmo.
Eu também estava ficando. Agarrei Dawn e a beijei.
- Escute - ela disse. - não gosto que eles façam sexo em
público. Vou levá-los para casa e colocá-los para transar.
- Mas aí não poderei olhar.
- Bem, terá que vir comigo.
- Tudo bem - respondi. - Vamos lá.
Acabei minha bebida e saímos juntos. Ela carregava as
criaturas em uma pequena gaiola de arame. Entramos no carro dela e colocamos o
pessoal entre nós, no banco da frente. Olhei para Dawn. Era realmente jovem e
bonita. Parecia ser boa também por dentro. Como podia ter fracassado com os
homens? Há tantas maneiras de as coisas saírem erradas. Os quatro pequenos
custaram-na oito mil. Tudo isso para se afastar de relacionamentos e na verdade
não se afastar de relacionamentos.
A casa era perto dos morros, um lugar com uma aparência
agradável. Descemos do carro e caminhamos até a porta. Segurei a gaiola com os
pequenos enquanto ela abria a porta.
- Ouvi Randy Newman semana passada no The Troubador. - Ele
não está ótimo? - perguntou.
- Sim, é ótimo.
Entramos na sala, e Dawn tirou os pequenos da gaiola e os
colocou em uma mesinha. Então caminhou até a cozinha, abriu o refrigerador e
pegou uma garrafa de vinho. Trouxe dois copos.
- Perdão - ela disse. - Mas você parece um pouco louco. O
que você faz?
- Sou escritor.
- E irá escrever sobre isso?
- Ninguém jamais acreditará, mas vou.
- Olha - disse dawn. - George tirou as calcinhas de Ruthie.
Ele está enfiando os dedos nela. Gelo?
- Sim, está fazendo isso. Não, sem gelo. Puro está ótimo
- Não sei o que acontece - disse Dawn -, mas fico realmente
excitada quando os observo. Talvez seja porque são tão pequenos. Realmente me
excita.
- Entendo o que quer dizer.
- Olhe, o George está chupando ela.
- É mesmo.
- Olhe pra eles!
- Deus do céu!
Agarrei Dawn. Ficamos ali em pé nos beijando. Enquanto isso,
seus olhos iam dos meus para eles e novamente para os meus.
O pequeno Marty e a pequena Anna também estavam olhando.
- Olhe - disse Marty -, eles vão trepar. Nós bem que
podíamos trepar também. Até os grandes vão transar. Olhe pra eles!
- Você ouviu isso? - perguntei a Dawn. - Eles disseram que
nós vamos trepar. É verdade?
- Espero que sim - disse Dawn.
Levei-a para o sofá e levantei o vestido acima da cintura.
Beijei seu pescoço.
- Eu te amo - eu disse.
- Mesmo? Ama?
- Sim, de alguma forma, sim...
- Tudo bem - disse a pequena Anna ao pequeno Marty. - Também
podemos trepar, mesmo que eu não ame você.
Eles se abraçaram no meio da mesinha. Eu já tinha tirado a calcinha
de Dawn. Ela gemia. Ruthie gemia. Marty se aproximava de Anna. Estava acontecendo
por toda parte. Tive a ideia de que todas as pessoas do mundo estavam trepando.
Então esqueci do resto do mundo. De alguma forma fomos para o quarto. Então
penetrei Dawn para a longa e lenta cavalgada.
Quando ela saiu do banheiro, eu estava lendo uma história muito idiota na
Playboy.
- Foi tão bom. - ela disse.
- O prazer foi meu - respondi.
Ela voltou para a cama. Pus a revista de lado.
- Acha que daremos certo juntos? perguntou
- O que quer dizer?
- Acha que vamos conseguir ficar juntos por algum tempo?
Não sei. Coisas acontecem. O começo é sempre mais fácil.
Então ouvimos um grito vindo da sala.
- Ai, ai - ela disse.
Saltou da cama e correu para a sala. Segui logo atrás.
Quando cheguei lá, ela estava segurando George nas mãos.
- Oh, meu Deus!
- O que aconteceu?
- Foi a Anna!
- O que tem a Anna?
- Cortou fora as bolas dele! George é um Eunuco!
- Uau!
- Pegue papel higiénico, rápido! Ele pode sangrar até
morrer!
- Esse filho da puta - disse Anna da mesinha -, se não posso
ter George, ninguém terá.
- Agora vocês duas são minhas! - disse Marty.
Não, agora você tem que escolher uma de nós - disse Anna.
- Então, com qual vai ficar? - perguntou Ruthie.
- Amo as duas - disse Marty.
- Parou de sangrar - disse Dawn. - Ele está frio.
Ela embrulhou George em um lenço e colocou sobre a borda da
lareira.
- Quero dizer - seguiu Dawn - que se você acha que não
daremos certo, não vou insistir.
- Acho que amo você, Dawn.
- Olhe, - ela disse. - Marty está abraçando Ruthie!
- Vão trepar?
- Não sei. Parecem excitados.
Dawn pegou Anna e a colocou na gaiola de arame.
- Deixe-me sair daqui! Vou matar os dois! Deixe-me sair
daqui!
George tremeu de dentro do lenço sobre a borda. Marty ja tirara
a calcinha de Ruthie. Puxei Dawn para perto de mim. Era bonita e jovem e boa
por dentro. Eu podia estar apaixonado novamente. Era possível, nos beijamos.
Mergulhei fundo em seus olhos. Então emergi e comecei a correr. Eu sabia onde
estava. Uma barata e uma águia faziam amor. O tempo era um idiota com um banjo
na mão. Continuei correndo. Seu cabelo longo caía sobre meu rosto.
- Vou matar todo mundo! gritava a pequena Anna.
Agitava-se na gaiola de arame às três horas da manhã.
Charles Bukowski
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