«A Senhora da Graça»
O Dia Depois/ Edvard Munch
453- «A SENHORA DA GRAÇA»
Era uma vez um homem que era casado com uma mulher, muito
amiga de vinho, a ponto de não deixar parar vinho na adega. Um dia o homem saiu
para comprar uns bois e recomendou à mulher que não fosse à adega beber o
vinho. Apenas o homem virou costas, a mulher chamou logo uma comadre e foram
ambas para a adega beber o melhor pipo de vinho que encontraram.
O homem, quando voltou para casa e se achou sem o vinho,
queria bater na mulher; mas ela disse-lhe que não lhe batesse, pois estava
inocente, quem tinha bebido o vinho tinha sido a gata. Como o homem não
quisesse acreditar, a mulher disse-lhe: «Pois olha, homem, havemos de ir à
Senhora da Graça, e havemos de perguntar-lhe quem foi que bebeu o vinho, se fui
eu ou a gata; se a Senhora disser que fui eu, hei-de trazer-te às costas para
casa, e se eu estiver inocente hás-de tu trazer-me a mim.
Partiu o homem mais a mulher para a Senhora da Graça, e
tendo chegado a um sítio onde havia um eco, a mulher disse ao homem: «Olha,
escusamos de ir mais longe; Nossa Senhora também aqui nos ouve.» O homem então gritou com toda a força: «Dizei-me, Senhora da
Graça, quem bebeu o vinho, foi a mulher ou foi a gata?» E o eco respondeu: «A gata».
Três vezes o homem perguntou o mesmo, e três vezes o eco lhe respondeu a gata.
O homem então, convencido de que a mulher estava inocente,
levou-a às costas para casa e matou a gata para ela não lhe ir beber mais o
vinho.
Adolfo Coelho
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