«Quatro Novelas»
Conto de Ana de Castro Osório
454- «QUATRO NOVELAS»
Chamo-me Raquel. Creio que este nome é hereditário na minha
família, porque a minha avó e a mãe da minha avó eram também Raquel. Não sei.
De genealogias, como de tudo mais, entendo pouco.
O mais longe que posso recordar na minha existência humana, vejo-me feliz.
Era uma grande casa de aldeia, a nossa. Havia ali de tudo quanto pode desejar
uma criança acostumada à simplicidade da vida campestre.
Os pátios eram habitados por uma multidão de animais domésticos, que nos
conheciam bem, de tanto milho que às escondidas lhes deitávamos.
Eu era a mais velha, e os meus quatro irmãozitos seguiam-me alegremente pelos
campos fora, como um rebanho segue o pastor. Nada nos era defeso, nem parede
que não tivéssemos escalado, nem árvore que não conhecêssemos como os nossos
dedos. Os frutos eram vigiados desde que as árvores se cobriam de prometedoras
flores, e antes, muito antes da família os ver em casa, já nós tínhamos feito a
nossa primeira escolha. Quando a nossa pobre burrica descansava do fatigante
trabalho da nora, íamos desamarrá-la da manjedoura, saltávamos-lhe para cima, e
fazíamo-la trotar pelos caminhos pedregosos da aldeia como um pur-sang trotaria
nas avenidas areadas dum luxuoso parque.
Felizes tempos!…
Ana de Castro Osório
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