sábado, 25 de abril de 2015

CANTE DA TERRA, POR MATIAS JOSÉ

«Cante da Terra»
Desenho de JPGalhardas

«CANTE DA TERRA»

Mote

Eu sou devedor à Terra,
A Terra me está devendo;
A Terra paga-me em vida,
Eu pago à Terra em morrendo.

(Popular)

Glosas

I
Quadra ao jeito popular,
Não se conhece o autor...
Seja lá ele quem for,
Disse a verdade ao versar.
O terceiro não quis rimar
Mas nem por isso emperra,
Quem o escreveu não erra
Se houver entendimento…
Digo com convencimento,
Eu sou devedor à Terra!

II
A rima tornou-se o fado
Da desdita dos poetas,
Em certas horas incertas
Fica o verso meio-encravado.
Depois de bem retocado
Soa afinado se estou lendo,
Ouvir o que vou dizendo
É como pão para a boca…
Não creias que estou louca,
A terra me está devendo!

 III
Toda a terra é sagrada…
Como sagrado o seu pão,
Esta bela conjugação
Merece ser respeitada!
Entender não custa nada
 A regra às vezes esquecida,
P’ra que não seja omitida
Um e outro se estão a dever…
Eu pago quando eu morrer,
A terra paga-me em vida!

IV
Tenho tudo o que preciso
Foi a terra quem mo deu…
Diz que um dia vou ser seu,
No chão sagrado que piso.
Há quem lhe chame Paraíso…?
Mas disso eu não entendo,
Dou o que estou recebendo
Quando tal me for pedido…
Saldando o que é devido,
Eu pago à terra em morrendo!

Matias José

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