522- «A NATIVIDADE RELUTANTE»
À porta da Sala fui encontrar o Supervisor, rodeado pelos
seus Técnicos. Aqueles rostos tensos, angustiados, confirmaram o meu
pressentimento: havia crise.
Mal me viu, o Supervisor correu ao meu encontro.
– Ainda bem que veio, é a nossa última esperança!
– O que se passa? Algum contratempo?
Ele dominava-se, mas era evidente que estava à beira do
pânico.
– Contratempo? Se fosse só um contratempo... mas é bem pior.
Pode muito bem ser uma catástrofe!
Indicou a porta da Sala, que se mantinha fechada, e
acrescentou:
– O Processo foi interrompido.
Como assim, perguntei. Isso nunca tinha acontecido, era uma
coisa inconcebível. O Supervisor encolheu os ombros e explicou:
– Ele abandonou a Câmara de Transformação e recusa-se a
voltar para lá.
Não percebi logo o significado da frase.
– Não quer voltar? Quer dizer que...
Gravemente, o Supervisor fez um aceno afirmativo: –
Recusa-se a nascer.
– Como? (...)
João Aguiar
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