«Noção de Amor»
O Amor/ Pintura Rupestre
564- «NOÇÃO DE AMOR»
[Excerto]
Esperar o Amor! Só o espera quem já o tem dentro de si!
Julgamos abraçar-lhe a sombra e já ele, o Amor, invisível aos nossos olhos, nos
abraça e nos oprime. Quando julgamos que morreu em nós, é porque já tínhamos
morrido dentro dele. E logo desperta quando a dor o chama.
Porque não se ama deveras senão depois de o coração do
amante se ter misturado no almofariz da angústia com o coração do ser amado. É
o amor paixão partilhada, é compaixão, é dor comum.
Vivemos dele sem nos darmos
conta disso, tal como nos não damos conta de que vivemos do ar senão no momento
da asfixia angustiosa. Esperar o Amor! Só espera o amor, só o chama quem já o
tem dentro de si, que vive, ainda que o não saiba, do seu sangue. É a água
subterrânea que aviva a secura.
Sentimos às vezes securas abrasadoras, como as
do campo deserto, que estala de sede enquanto voam à solta, à superfície, as
folhas levadas pelo vento suão; e todavia, nas profundezas desse mesmo campo,
por debaixo das raízes da sua verdura morta, corre sobre a rocha que a sustém,
o manancial das águas do céu.
E é o rumor dessas águas profundas que se junta ao rumor das folhas secas. E há um momento em que a terra seca e sedenta se abre e brotam à sua superfície as águas adormecidas.
E é o rumor dessas águas profundas que se junta ao rumor das folhas secas. E há um momento em que a terra seca e sedenta se abre e brotam à sua superfície as águas adormecidas.
Assim é o Amor.
Miguel de Unamuno
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