«Vida Conjugal»
Romance de Sergio Pitol
676- «VIDA CONJUGAL»
[Excerto]
"A Maldade vem da ignorância- disse ela, imitando o tom
de voz de María Dorotea- É fruto do mau gosto, da cafonice. Você não faz ideia
de como eu gostaria de compartilhar com você as conversas de que participo nos
sábados à noite na casa de Márgara Armengol. Como gostaria que nós começássemos
a conversar... Não pudemos fazê-lo quando éramos mais jovens... A maldita
miséria nos tirou essa oportunidade... Sobre Os Irmãos Karamazov, A Metamorfose
ou Les Demoiselles d'Avignon, do grande Picasso! Gostaria de poder proporcionar
a você e a María Del Carmen essas oportunidades que a vida lhes negou.
Mas, o
que estou fazendo? Eu aqui, falando com uma vendedora ambulante qualquer, sendo
que esta tarde tenho uma consulta com meu médico, um homem admirável, eu lhe
garanto; Ele insiste em que eu escreva. Segundo ele, devia começar com um
conto. Pode acreditar, não me falta vontade de descrever a frustração dos
medíocres, seu rancor em relação a tudo que lhes é superior, em relação àquilo que
nunca conseguirão atingir. Teria de situar meu conto numa cidade imaginária,
numa época diferente da nossa, para não correr o risco de alguém vestir a
carapuça, não acha? Mas continuo falando! Bom, eu vou embora, vou embora!.
Levantou-se e, sem nem mesmo estender a mão à irmã, deu-lhe
"boa tarde",
pegou uma revista que estava sobre a mesa e dirigiu-se ao quarto."
pegou uma revista que estava sobre a mesa e dirigiu-se ao quarto."
Sergio Pitol
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