«O Senhor Palha», conto de William J. Bennett.
«O Senhor Palha»
Conto de William J. Bennett
694- «O SENHOR PALHA»
Era uma vez, há muitos e muitos anos, é claro, porque as
melhores histórias passam-se sempre há muitos e muitos anos, um homem chamado Senhor
Palha. Ele não tinha casa, nem mulher, nem filhos. Para dizer a verdade, só
tinha a roupa do corpo. Ora o Senhor Palha não tinha sorte. Era tão pobre que
mal tinha para comer e era magrinho como um fiapo de palha. Era por esse motivo
que as pessoas lhe chamavam Senhor Palha.
Todos os dias o Senhor Palha ia ao templo pedir à Deusa da Fortuna que
melhorasse a sua sorte, mas nada acontecia. Até que um dia, ele ouviu uma voz
sussurrar:
— A primeira coisa em que tocares quando saíres do templo há- de trazer-te uma
grande fortuna.
O Senhor Palha apanhou um susto. Esfregou os olhos, olhou em volta, mas viu que
estava bem acordado e que o templo estava vazio. Mesmo assim, saiu a pensar:
“Terei sonhado ou foi a Deusa da Fortuna que falou comigo?” Na dúvida, correu
para fora do templo, ao encontro da sorte. Mas, na pressa, o pobre Senhor Palha
tropeçou nos degraus e foi rolando aos trambolhões até o final da escada, onde
caiu por terra. Ao levantar-se, ajeitou as roupas e percebeu que tinha alguma
coisa na mão. Era um fio de palha.
“Bom”, pensou ele, “uma palha não vale nada, mas, se a Deusa da Fortuna quis
que eu o apanhasse, é melhor guardá-lo.”
E lá foi ele, com a palha na mão.
Pouco depois, apareceu uma libélula zumbindo em volta da cabeça dele. Tentou
afastá-la, mas não adiantou. A libélula zumbia loucamente ao redor da cabeça
dele. “Muito bem”, pensou ele. “Se não queres ir embora, fica comigo.” Apanhou
a libélula e amarrou-lhe o fio de palha à cauda. Ficou a parecer um pequeno
papagaio (de papel), e ele continuou a descer a rua com a libélula presa à
palha.
Encontrou a seguir uma florista, que ia a caminho do mercado com o filho
pequenino, para vender as suas flores. Vinham de muito longe. O menino estava
cansado, coberto de suor, e a poeira fazia-o chorar. Mas quando viu a libélula
a zumbir amarrada ao fio de palha, o seu pequeno rosto animou-se.
— Mãe, dás-me uma libélula? — pediu. — Por favor!
“Bem”, pensou o Senhor Palha, “a Deusa da Fortuna disse-me que a palha traria
sorte. Mas este garotinho está tão cansado, tão suado, que ficará certamente
mais feliz com um pequeno presente.” E deu ao menino a libélula presa à palha.
— É muita bondade sua — disse a florista. — Não tenho nada para lhe dar em
troca além de uma rosa. Aceita?
O Senhor Palha agradeceu e continuou o seu caminho, levando a rosa. Andou mais
um pouco e viu um jovem sentado num tronco de árvore, segurando a cabeça entre
as mãos. Parecia tão infeliz que o Senhor Palha lhe perguntou o que tinha
acontecido.
— Hoje à noite, vou pedir a minha namorada em casamento — queixou-se o rapaz. —
Mas sou tão pobre que não tenho nada para lhe oferecer.
— Bem, eu também sou pobre — disse o Senhor Palha. — Não tenho nada de valor
mas, se quiser dar-lhe esta rosa ela é sua.
O rosto do rapaz abriu-se num sorriso ao ver a esplêndida rosa.
— Fique com estas três laranjas, por favor — disse o jovem. — É só o que posso
dar-lhe em troca.
O Senhor Palha continuou a andar, levando três suculentas laranjas. Em seguida,
encontrou um vendedor ambulante a puxar uma pequena carroça.
— Pode ajudar-me? — disse o vendedor ambulante, exausto. — Tenho puxado esta
carroça durante todo o dia e estou com tanta sede que acho que vou desmaiar.
Preciso de um gole de água.
— Acho que não há nenhum poço por aqui — disse o Senhor Palha. — Mas, se
quiser, pode chupar estas três laranjas.
O vendedor ambulante ficou tão grato que pegou num rolo da mais fina seda que
havia na carroça e deu-o ao Senhor Palha, dizendo:
— O senhor é muito bondoso. Por favor, aceite esta seda em troca.
E, uma vez mais, o Senhor Palha continuou o seu caminho, com o rolo de seda
debaixo do braço.
Não tinha dado dez passos quando viu passar uma princesa numa carruagem. Tinha
um olhar preocupado, mas a sua expressão alegrou-se ao ver o Senhor Palha.
— Onde arranjou essa seda? — gritou ela. — É justamente aquilo de que estou à
procura. Hoje é o aniversário de meu pai e quero dar-lhe um quimono real.
— Bem, já que é aniversário dele, tenho prazer em oferecer-lhe a seda — disse o
Senhor Palha.
A princesa mal podia acreditar em tamanha sorte.
— O senhor é muito generoso — disse sorrindo. — Por favor, aceite esta jóia em
troca.
A carruagem afastou-se, deixando o Senhor Palha com uma jóia de inestimável
valor refulgindo à luz do sol.
“Muito bem”, pensou ele, “comecei com um fio de palha que não valia nada e
agora tenho uma jóia. Sinto-me contente.”
Levou a jóia ao mercado, vendeu-a e, com o dinheiro, comprou uma plantação de
arroz. Trabalhou muito, arou, semeou, colheu, e a cada ano a plantação produzia
mais arroz. Em pouco tempo, o Senhor Palha ficou rico.
Mas a riqueza não o modificou. Oferecia sempre arroz aos que tinham fome e
ajudava todos os que o procuravam. Diziam que a sua sorte tinha começado com um
fio de palha, mas quem sabe se não terá sido com a sua generosidade?
William J. Bennett
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