«Um Falcão no Punho»
Escritora Portuguesa
697- «UM FALCÃO NO PUNHO»
[Excerto]
Seguindo o meu olhar até aos lábios de Bach, há sempre um
espaço subterrâneo, uma fala que perscruta a sua boca aberta.
Baixo os olhos sobre as claridades cintilantes, enamoradas,
visualizo um volume que, na minha língua, deve ter um nome. Procuro então um
outro volume para que não encontro palavras, ou superfície e imagem: água
livre, nem de rio, nem de mar, nem de lago, nem de nevoeiro, água repleta de
silêncio no momento do fogo, ou talvez clima vulcânico no centro das terras.
Designações sobrepostas de múltiplas línguas voltam à
unidade, é a explosão do nascimento do tempo; é o seu princípio de fuga estelar
no seio das criaturas; (levanta-se uma brisa, sua descrição é impensável para
além de uma meditação de neblina).
É uma visão de deleite tão intenso que fios de água escorrem por entre o fogo,
que é circundante e leve. Ali estão compreendidos os seres vivos desde o início
dos séculos ao fim das carreiras mortais e, sobre eles, os seres mortos não se
distinguem da palpitação consumitiva: meus companheiros vêem por mim, a quem eu
cerro as pálpebras; acordo abrindo os olhos.
Maria Gabriela Llansol
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