terça-feira, 29 de dezembro de 2015

OUTROS CONTOS

«Um Falcão no Punho», por Maria Gabriela Llansol.

«Um Falcão no Punho»
Escritora Portuguesa

697- «UM FALCÃO NO PUNHO»

[Excerto]

Seguindo o meu olhar até aos lábios de Bach, há sempre um espaço subterrâneo, uma fala que perscruta a sua boca aberta.

Baixo os olhos sobre as claridades cintilantes, enamoradas, visualizo um volume que, na minha língua, deve ter um nome. Procuro então um outro volume para que não encontro palavras, ou superfície e imagem: água livre, nem de rio, nem de mar, nem de lago, nem de nevoeiro, água repleta de silêncio no momento do fogo, ou talvez clima vulcânico no centro das terras.

Designações sobrepostas de múltiplas línguas voltam à unidade, é a explosão do nascimento do tempo; é o seu princípio de fuga estelar no seio das criaturas; (levanta-se uma brisa, sua descrição é impensável para além de uma meditação de neblina).

É uma visão de deleite tão intenso que fios de água escorrem por entre o fogo, que é circundante e leve. Ali estão compreendidos os seres vivos desde o início dos séculos ao fim das carreiras mortais e, sobre eles, os seres mortos não se distinguem da palpitação consumitiva: meus companheiros vêem por mim, a quem eu cerro as pálpebras; acordo abrindo os olhos.

Maria Gabriela Llansol

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