«O Judeu»
Texto Dramático de Bernardo Santareno
722- «O JUDEU»
[Excerto]
(Com desgosto e revolta)
Medo. O mesmo medo que enruga a mais pura alegria, que gera
cobras na cama dos amantes, que deita neve nos mais negros cabelos, que seca o
leite no peito das mães… No meu país quem governa é o medo! Os olhos e os
ouvidos do medo crescem e multiplicam-se por toda a parte: Nem o pai, nem a
mãe, nem a esposa, nem o irmão servem de porto abrigado; armadilhas de traição
eles podem ser também. Em Portugal, as varejeiras do medo por toda a banda voam
e em todas as cousas, vivas e mortas, de imprevisto pousam. Muitas, muitíssimas
são; sem conto, realmente. As nojentas, as ardilosas, as pestíferas varejeiras
do medo!
(Aponta enérgico para o sítio do palco onde o Estudante
Pálido, meio oculto entre as pregas da cortina de fundo, aparece espiando o
Judeu:)
Espião miserável, varejeira maldita!!
(O Estudante Pálido, como uma sombra, logo desaparece.)
Conhecem-se pelo fedor a podre, pela luz assassina dos
olhos…
(Levanta-se com ímpeto; escarninho, desesperado:)
Na Europa civilizada, Portugal é a fortaleza do Medo;
espiões e polícias, os seus alicerces e guarda!
Bernardo Santareno
Sem comentários:
Enviar um comentário