«Vento»
Vento/ Rackham
731- «VENTO»
Eu acabei e tu estás viva.
E o vento, queixando-se e chorando,
abana a casa e as árvores à volta.
Não cada pinheiro isoladamente,
mas todas as árvores juntas
de todos os infinitos distantes,
como navios ao sabor das correntes
nas baías brilhantes ancorados.
E isso não por audácia
ou por frenesia insensata,
mas para na melancolia encontrar a palavras
para a tua canção de embalar.
É assim que começam. Pelos dois anos
separam-se da ama para o enigma das melodias,
gorjeiam, assobiam, - e as palavras
surgem por volta dos três anos.
É assim que começam a entender.
E no ruído pior que uma turbina
parece que a mãe não é mãe,
que eles não são eles e a casa é outra.
Que fazer da terrível beleza
que se senta no banco lilás?
Realmente quer roubar crianças?
E assim nascem as suspeitas.
Assim amadurecem os receios. Aceitar
a estrela alta inatingível,
quando se é Fausto, quando se é visionário?
E assim começam os ciganos.
É assim que se abrem, voando alto
sobre as cercas, onde estão as casas ausentes,
dos mares súbitos como suspiros.
É assim que nascerão os jambos.
Assim nas noites de Verão, de barriga
na areia, e a súplica: Seja!
Ameaçam a aurora com a tua pupila.
E até se atrevem a discutir com o sol.
É assim que começam a viver de poesia.
Boris Pasternak
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