quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

OUTROS CONTOS

«Vento», conto poético por Boris Pasternak.

«Vento»
Vento/ Rackham

731- «VENTO»

Eu acabei e tu estás viva. 
E o vento, queixando-se e chorando, 
abana a casa e as árvores à volta. 
Não cada pinheiro isoladamente, 
mas todas as árvores juntas 
de todos os infinitos distantes, 
como navios ao sabor das correntes 
nas baías brilhantes ancorados. 
E isso não por audácia 
ou por frenesia insensata, 
mas para na melancolia encontrar a palavras 
para a tua canção de embalar. 

É assim que começam. Pelos dois anos 
separam-se da ama para o enigma das melodias, 
gorjeiam, assobiam, - e as palavras 
surgem por volta dos três anos. 

É assim que começam a entender. 
E no ruído pior que uma turbina 
parece que a mãe não é mãe, 
que eles não são eles e a casa é outra. 

Que fazer da terrível beleza 
que se senta no banco lilás? 
Realmente quer roubar crianças? 
E assim nascem as suspeitas. 

Assim amadurecem os receios. Aceitar 
a estrela alta inatingível, 
quando se é Fausto, quando se é visionário? 
E assim começam os ciganos. 

É assim que se abrem, voando alto 
sobre as cercas, onde estão as casas ausentes, 
dos mares súbitos como suspiros. 
É assim que nascerão os jambos. 

Assim nas noites de Verão, de barriga 
na areia, e a súplica: Seja! 
Ameaçam a aurora com a tua pupila. 
E até se atrevem a discutir com o sol. 

É assim que começam a viver de poesia.

Boris Pasternak

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