«Introspecção», conto poético por Matias José.
«Introspecção»
Conto Poético de Matias José
Mote
Não sei, mas sinto morto
O ser vivo que tenho.
Nasci como um aborto,
Salvo a hora e o tamanho.
[Fernando Pessoa]
759- «INTROSPECÇÃO»
Planeio separar-me
E encontrar um fim,
Iludo-me ainda assim
Ao querer achar-me.
Se ouso escutar-me
Aceito tal conforto,
Pra chegar a bom porto
Evito o compromisso…
A viver, sem dar por isso?
Não sei, mas sinto morto!
Nada que sou ou fui
Muda que quer que seja,
No final pouco sobeja
Quando a vida se dilui.
A alma do corpo flui
Num último desempenho,
Não sou quem a detenho
Se de mim pensa fugir…
Com ela pretende ir
O ser vivo que tenho.
O berço tudo me deu,
A tumba é quem o tira…
Por mais que isto fira,
Assim se estabeleceu.
Minha mãe concebeu
Pra meu desconforto,
Ao ver fiquei absorto
Com a minha imagem…
Salvo esta miragem,
Nasci como um aborto!
Que apareci no mundo…
Meu ser, antes fecundo,
Resolveu dar o passo.
Saí sem embaraço
Pra este lugar estranho,
No meio do rebanho
Senti-me deslocado…
Andei tresmalhado,
Salvo a hora e o tamanho.
Matias José
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