«Crimes Exemplares»
Pequeno Conto de Max Aub
1027- «CRIMES EXEMPLARES»
«Penso, logo existo, disse o tal homem famoso. As árvores do
meu jardim existem, mas não creio que pensem, pelo que fica demonstrado que o
senhor René não estava bom do juízo e que o mesmo acontece com outros seres: o
meu sogro, por exemplo – existe, mas não pensa. Ou o meu editor, que pensa, mas
não existe. E se pomos isto ao contrário, também não fica certo. Não existo
porque penso ou penso porque existo. Pensar, pensa-se, existir é um mito.
Eu não existo, sobrevivo, porque viver – aquilo a que se
chama viver – só os que não pensam. Os que se metem a pensar, não vivem. A
injustiça é por demais evidente. Bastaria que pensássemos para nos suicidarmos.
Não; senhor Descartes: vivo, logo não penso, se pensasse não
vivia, se vivesse não pensava, senhor… etc., etc. Se para viver fosse
necessário pensar, estaríamos lúcidos. Mas, enfim, se os senhores estão
convencidos de que assim é, estou inocente, completamente inocente, pois não
penso nem quero pensar.
Logo, se não penso não existo e, se não existo, como diabo
posso ser responsável por essa morte?»
Max Aub
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