«Aviso às Crianças»
A Grande Lousa/ Eduardo Luiz
1054- «AVISO ÀS CRIANÇAS»
Crianças, se tiverdes a coragem de
Pensar na minúscula grandeza, ou na rareza,
Ou na estranheza deste mundo
Precioso e único e infinito em que dizeis
Viver, pensai em coisas destas:
Blocos de ardósia envolvendo manchas
De cor verde e encarnada, envolvendo
Redes de um amarelo acastanhado,
Envolvendo um campo com ladrilhos
Dominós de branco e preto que se alternam
E no meio um perfeito embrulho em papel pardo
Que vos convida a puxar pelo baraço.
E no embrulho uma ilha pequena,
E na ilha uma árvore grande,
E na árvore um fruto de casca dura.
Parti a casca e abri o fruto:
No seu miolo vereis
Blocos de ardósia envolvendo manchas
De cor verde e encarnada, envolvendo
Redes de um amarelo acastanhado,
Envolvendo um campo com ladrilhos
Dominós de branco e preto que se alternam
Onde o mesmo embrulho em papel pardo –
Crianças, deixai o baraço em paz!
Porque quem se atreve a abrir o embrulho
Fica logo dentro dele,
Dentro da ilha, na árvore,
Blocos de ardósia envolvendo-lhe a cabeça,
E vê-se envolvido por manchas,
De cor verde e encarnada, envolvendo
Redes de um amarelo acastanhado,
Envolvendo um campo com ladrilhos
Dominós de branco e preto que se alternam
Com o mesmo embrulho em papel pardo
Ainda por abrir sobre os joelhos.
E se então tiver a coragem de
Pensar na estranheza, ou na rareza,
Ou na minúscula grandeza deste mundo
Precioso e único e infinito em que diz viver –
Então, puxará pelo baraço.
Robert Graves
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