sábado, 23 de setembro de 2017

OUTROS CONTOS

«Tão Linda e Finda a Memoro!», conto poético por Manel d' Sousa.

«Tão Linda e Finda a Memoro!»
Menina Catavento/ Wellington, 1967

1102- «TÃO LINDA E FINDA A MEMORO!»

Mote

Tão linda e finda a memoro! 
Tão pequena a enterrarão! 
Quem me entalou este choro 
Nas goelas do coração? 

Fernando Pessoa

Glosas

Por ela tinha estima
E sincera amizade,
Julguei ser a verdade
O que mais nos aproxima.
A mentira veio ao de cima
Num invulgar descoro,
Com isso não colaboro
E cortei o mal p’la raiz…
Agora isso nada me diz,
Tão linda e finda a memoro!

Fingir que tudo vai bem
De mim nunca fez parte…
Sorrisos com muita arte,
Já não enganam ninguém!
À ideia o que me vem
Não digo por contenção,
Manda a boa educação
Que me abstenha de tal…
Foi enorme o funeral,
Tão pequena a enterrarão!

Vivi assim iludido
Durante anos a fio…
Pensei seguir o rio
Sempre no mesmo sentido.
O curso interrompido
Hoje até que ignoro,
Mas ao rio imploro
Que não deixe de correr…
Espero alguém responder,
Quem me entalou este choro?

Catavento a indicar
Que o vento é incerto...
Nunca se sabe ao certo
Pra que lado vai mudar.
Ninguém pode adivinhar
Qual a sua direcção,
Tanto sopra de feição
Como do lado oposto…
Vivo com este desgosto
Nas goelas do coração!

Manel d’ Sousa

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