Décimas com motes do poema “Fim” de Mário de Sá-Carneiro, composto por duas quadras de rima
interpolada ou intercalada. Para a construção das décimas, troca do terceiro e
quarto versos de ambas as quadras para rima cruzada ou alternada.
O poema tal qual escreveu o poeta, diz assim:
FIM
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá-Carneiro
«Quando Eu Morrer»
O Circo/ Marc Chagall
Motes de rima cruzada ou alternada para construção das décimas:
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes…
Chamem palhaços e acrobatas,
Façam estalar no ar chicotes!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
Eu quero por força ir de burro,
A um morto nada se recusa.
«Quando Eu Morrer»
Fernando Pessoa encontra D. Sebastião
“em caixão sobre um
burro ajaezado à andaluza”
Júlio Pomar
1118- «QUANDO EU MORRER»
Vai o enterro a passar,
Quem será que morreu?...
Sei que não fui eu,
Ainda estou a respirar.
Ouve-se gente chorar…
Parecem lágrimas sensatas,
Também alguns vira-latas
Uivando no cortejo…
Digo meu último desejo:
Quando eu morrer batam em latas!
Manda embora a tristeza
Quando chegar minha vez,
Creio que às duas por três
A alegria vem de certeza.
Não preciso de mais fineza
Bastam-me estes motes,
Para que a dor suportes
O que peço, deves fazer:
Quando eu morrer
Rompam aos saltos e aos pinotes!
Se o Circo vier à cidade
No dia da minha morte,
Considero-me com sorte
Haverá festa de verdade!
Quero cá deixar saudade
E esquecer as zaragatas,
Se tu ainda bem me tratas
Não permitas o desterro…
No dia do meu enterro
Chamem palhaços e acrobatas!
Antes de baixar à cova
Ouve bem o que eu digo,
Não te esqueças amigo
Que a amizade se prova.
Atende esta prece nova,
Por favor, não a boicotes,
Tu não me conotes
Com um morto qualquer…
Então, se Deus quiser,
Façam estalar no ar chicotes!
Leva-me ao cemitério
De forma estapafúrdia,
Que haja muita balburdia!...
Não leves a morte a sério.
Fico neste eremitério
Onde não soa sussurro,
Se me cheirar a esturro
Depressa me vou embora…
Peço a todos nessa hora
Que o meu caixão vá sobre um burro.
O animal bem composto
Em traje de cerimónia,
Sem qualquer parcimónia
Não me causes desgosto.
Quero tudo a meu gosto
Quando à terra me conduza,
Que mal ninguém deduza
Por eu ter esta vontade…
Ir de burro, de verdade,
Ajaezado à andaluza!
Pra que tudo aconteça
E se cumpra o funeral,
Tratem bem do animal
Das patas até à cabeça.
Ninguém pois impeça
Ou me julgue casmurro,
Se o burro der um zurro
Tanto melhor pra mim…
Quando chegar o meu fim
Eu quero por força ir de burro!
Tenho fé não ser esquecido
Quando me levarem morto,
De burro chegar a bom porto
Ver o meu desejo cumprido.
Entende pois este pedido
Sem haver qualquer escusa,
Assim o morto não te acusa
Do que disseste ser capaz…
Se quiseres ficar em paz,
A um morto nada se recusa!
Carlos Biga
Muito, mas mesmo muito bom!!!
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