terça-feira, 17 de abril de 2018

POEMA DE AIMÉ CÉSAIRE

A Palavra aos Abutres
Poema de Aimé Césaire

A PALAVRA AOS ABUTRES

Onde quando como de onde por que sim por que por que por que é que
as línguas mais celeradas não inventaram mais do que alguns ganchos
para pendurar ou suspender o destino.
Prendam este homem inocente. Todos de enganação.
Ele leva meu sangue em seus ombros. 
Ele leva meu sangue em seus sapatos.
Ele anuncia meu sangue em seu nariz. 
Morte aos contrabandistas. 
As fronteiras estão fechadas.

Nem os que se conhecem e nem os que se desconhecem todos.
Obrigado deus meu coração está mais seco que o Harmatã,[1] toda treva é minha presa.
Toda treva me é devida e toda bomba minha alegria.
Vós abutres em seus postos de rodopios e de bicar acima da floresta,
e tão longe quanto é a caverna cuja porta é um triângulo,
onde o guardião é um cão,
onde a vida é um cálice,
onde a virgem é uma aranha,
onde o rastro precioso é um lago 
que se destaca nos caminhos descendentes 
das tempestuosas nixes.[2]

Aimé Césaire

[1] Vento seco do Saara.
[2] Na mitologia Nórdica, espíritos que, imprevisíveis, ora fazem o bem, ora, o mal.

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