«O Don Silencioso»
Romance de Mikhail Sholokhov
1235- «O DON SILENCIOSO»
[Pequenos Excertos do Romance]
- Cale-se, mujique!
- E os mujiques não são homens, como você?
- São mujiques, feitos de casca de árvore e recheados de
mato.
***
Cerca de quatro dias mais tarde, os vagões vermelhos dos
trens carregados de tropas levavam os regimentos de cossacos e suas baterias
para a fronteira russo-austríaca.
“Guerra… ”
Os vagões zumbiam de conversas e canções. Olhares
inquisitivos e benevolentes saudavam os cossacos nas estações, e o povo
contemplava as listras das calças dos soldados.
“Guerra… ”
Mulheres acenavam com lenços, sorriam e atiravam cigarros e
doces para os soldados.
Uma vez, pouco antes que o trem chegasse a Voronej, um velho
ferroviário enfiou a cabeça no vagão, onde estava Piotr Melekhov com mais vinte
e nove camaradas e perguntou:
- Estão indo?
- Sim. Entre e venha connosco, avozinho - respondeu um dos
cossacos.
- Meu rapaz... bois para o matadouro! - disse o velho,
sacudindo a cabeça em tom de reprovação.
- Então você é um bolchevista? - perguntou.
- O nome não importa - respondeu Lagutin. - Não é uma
questão de nomes, mas do que está certo. O povo quer os seus direitos, mas
estes lhe são sempre negados.
- É óbvio que os bolchevistas estão ensinando você! Não
perdeu tempo na companhia.
- Ah, capitão, é a própria vida que tem ensinado às pessoas
pacientes, os bolchevistas apenas puseram fogo no pavio.
***
Estava completamente exausto devido à guerra. Queria virar
as costas ao mundo incompreensível, tempestuoso, hostil, cheio de ódio.
(Narração sobre Grigóri Melekhov ao voltar pra casa)
***
É uma vida estranha, Aleksei! Os homens caminham às
apalpadelas, como se fossem cegos; juntam-se e se separam de novo, às vezes se
espezinhando uns aos outros… Aqui estamos, vivendo à beira da morte, e só podemos
nos perguntar selvagemente por que tudo isso? Acho que não há nada mais
terrível no mundo do que os seres humanos. Faça o que fizer, você não chegará
ao fundo deles… Aqui estou eu a seu lado e não sei o que você está pensando e
nunca soube, e também não sei que tipo de vida você leva. Você tampouco sabe
sobre a minha vida… Talvez eu esteja querendo matá-lo agora, e aí está você me
dando um biscoito, sem qualquer ideia do que estou pensando… As pessoas sabem
pouco sobre si mesmas.
(Micha Kochevoi)
***
Não. Sou forte. Não pense que haja homens feitos de aço.
Somos forjados de um só material. Na vida real não há um homem que não tema a
batalha, assim como não há nenhum que possa matar pessoas sem carregar… sem se
sentir moralmente arranhado.
(Iliá Buntchuk para sua namorada Ana Pogudko)
Mikhail Sholokhov
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