sábado, 19 de outubro de 2019

OUTROS CONTOS

«O Pão», por Solrac Agib.

«O Pão»
Quadra de Aleixo

Mote

O Pão que sobra à riqueza
Distribuído pela razão,
Matava a fome à pobreza
E ainda sobrava pão.

António Aleixo

1459- «O PÃO»

Glosas

Os celeiros no Alentejo
Rasos com trigo oiro...
Tempo de bom agoiro
Nas terras a sul do Tejo.
Boas searas almejo
Por toda a redondeza,
A ceifa uma dureza
Usando força de braço…
Ao pobre é escasso
O Pão que sobra à riqueza.

Há quem viva na fartura,
Outros sem ter de comer…
Como pode acontecer
Este mal que ainda perdura?
No mundo se prefigura
Tamanha separação,
Muita fome sem precisão
E tanto olhar faminto…
Isto podia ser extinto
Distribuído pela razão

Cega a pérfida ganância,
Tudo essa maldita quer…
«- Só reparto se quiser!»,
Diz com toda a jactância.
Vive em abundância
Sem conhecer escasseza,
O necessitado despreza
P’ra só ela se alimentar…
Se não quisesse usurpar
Matava a fome à pobreza.

Tudo podia ser diferente
Com um espécime racional,
O bem venceria o mal
Se a carne fosse inteligente.
Embora às vezes doente
Bate forte o coração,
Há quem partilhe o pão
Sem pedir nada em troca…
Saciava-se muita boca
E ainda sobrava pão.

Solrac Agib

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