segunda-feira, 18 de abril de 2011

POESIA - ANTERO DE QUENTAL

O poeta e escritor Antero Tarquínio de Quental nasceu em Ponta Delgada, arquipélago dos Açores, Portugal, a 18 de Abril de 1842. Poeta metafísico, foi o mais importante mentor do movimento académico de Coimbra do séc. XIX, ao revolucionar em várias dimensões a cultura portuguesa, dando início à introdução do realismo. Este movimento ficou conhecido como «Geração de 70» ou «Geração de Coimbra». Vítima de suicídio, faleceu em Ponta Delgada a 11 de Setembro de 1891.
Poet'anarquista
Antero de Quental
Poeta e Escritor Português
BIOGRAFIA
18/04/1842, Ponta Delgada, Açores (Portugal)
11/09/1891, Ponta Delgada, Açores (Portugal)

Apesar de não ter deixado uma obra extensa, Antero Tarquíneo de Quental é considerado um dos principais poetas portugueses modernos. Aluno brilhante na Universidade de Coimbra, em Portugal, formou-se em direito, em 1864. Dois anos depois tentaria alistar-se no exército do nacionalista Giuseppe Garibaldi, o revolucionário que havia unificado a Itália em 1861.

Ilhéu, isto é, nascido numa ilha que era colónia portuguesa, viajou pela França, pelos Estados Unidos e pelo Canadá, fixando-se em Lisboa, onde trabalhou por algum tempo organizando o Partido Socialista. Amigo de Eça de Queirós e Oliveira Martins, pertenceu à chamada Geração de 70, grupo ligado à «Questão Coimbrã» e que pretendia renovar a mentalidade em Portugal. 

A «Questão Coimbrã» foi uma polémica literária travada, em 1865, entre o círculo de poetas ligados a António Feliciano de Castilho e o grupo de jovens coimbrãos (isto é, ligados à Universidade de Coimbra) que manifestaram publicamente o seu interesse pela reforma da vida em Portugal.  Veio, mais tarde, a ser conhecido como «Geração de 70», da qual Antero de Quental foi considerado mentor. Com os poemas «Odes Modernas» e o ensaio «Bom Senso e Bom Gosto», o poeta e pensador liderou a ruptura cultural com os valores do passado  representados na «Questão», pelo poeta Castilho.

As suas obras vão da poesia à reflexão filosófica. Defendia a missão social da poesia como oposição ao lirismo ultra-romântico em voga na época. Sua poesia pode ser considerada uma procura filosófica pela verdade através da própria experiência. Os intelectuais do seu tempo o definiam como um homem de grande estatura moral e espiritual.

São também desse período do «Grupo dos 70» as suas manifestações de entusiasmo pelos movimentos sociais europeus, e a leitura dos grandes teóricos do socialismo e dos filósofos contemporâneos, em especial Proudhon e Hegel, que influenciaram bastante o seu pensamento. 

Produziu ainda «Raios de Extinta Luz», «Primaveras Românticas», «Sonetos», «Prosas» e «Cartas». Ainda em vida, teve os seus sonetos traduzidos para o alemão.

Numa carta ao amigo Cândido de Figueiredo, datada de 3 de maio de 1881, dez anos antes da sua morte, se disse oriundo de uma família com antecedentes literários, de que destacava o Padre Bartolomeu de Quental «cujos sermões ainda hoje podem ser lidos com alguma utilidade» e o seu avô, André Ponte de Quental, «poeta nada vulgar» e amigo íntimo de Bocage. 

Colaborou na criação de associações operárias, e ao mesmo tempo dedicou-se a divulgar ideais revolucionários, escrevendo panfletos e artigos sobre assuntos sociais e literários para o «Jornal do Comércio» e o «Diário Popular», de Lisboa, e para «O Primeiro de Janeiro», do Porto. Fez parte das redacções dos periódicos «A República» e «Pensamento Social».

Fundou, em 1872, a Associação Fraternidade Operária, representante em Portugal da 1ª Internacional Operária.

Sofria de uma doença mental, identificada por alguns como psicose maníaco-depressiva, hoje chamada de transtorno bipolar, pela moderna psiquiatria. Em função desse distúrbio, caracterizado por períodos de delírio alternados com profunda depressão, torna-se quase inválido, o que faz diminuir o seu activismo político em prol de um nacionalismo ibérico e do socialismo.

O seu último ensaio filosófico, «A Filosofia da Natureza dos Naturalistas», foi publicado em 1884, na Revista de Portugal, editada por Eça de Queirós. 

Em 5 de junho de 1891, adoentado, provavelmente deprimido, regressou para Ponta Delgada, sua cidade natal no arquipélago dos Açores, cometendo suicídio três meses depois.
Fonte: UOL Educação

COM OS MORTOS

Os que amei, onde estão? Idos, dispersos, 
arrastados no giro dos tufões,
Levados, como em sonho, entre visões,
Na fuga, no ruir dos universos... 

E eu mesmo, com os pés também imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos... 

Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei vivem comigo, 

Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem. 

Antero de Quental

DIVINA COMÉDIA

Erguendo os braços para o céu distante 
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: — «Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante, 

Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
N'um turbilhão cruel e delirante... 

Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente? 

Porque é que para a dor nos evocastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»

Antero de Quental

NIRVANA

Viver assim: sem ciúmes, sem saudades, 
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos; 

Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos; 

Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho; 

Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura! 

Antero de Quental

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