O poeta e escritor Antero Tarquínio de Quental nasceu em Ponta Delgada, arquipélago dos Açores, Portugal, a 18 de Abril de 1842. Poeta metafísico, foi o mais importante mentor do movimento académico de Coimbra do séc. XIX, ao revolucionar em várias dimensões a cultura portuguesa, dando início à introdução do realismo. Este movimento ficou conhecido como «Geração de 70» ou «Geração de Coimbra». Vítima de suicídio, faleceu em Ponta Delgada a 11 de Setembro de 1891.
Poet'anarquistaAntero de Quental
Poeta e Escritor Português
BIOGRAFIA
18/04/1842, Ponta Delgada, Açores (Portugal)
11/09/1891, Ponta Delgada, Açores (Portugal)
Apesar de não ter deixado uma obra extensa, Antero Tarquíneo de Quental é considerado um dos principais poetas portugueses modernos. Aluno brilhante na Universidade de Coimbra, em Portugal, formou-se em direito, em 1864. Dois anos depois tentaria alistar-se no exército do nacionalista Giuseppe Garibaldi, o revolucionário que havia unificado a Itália em 1861.
Ilhéu, isto é, nascido numa ilha que era colónia portuguesa, viajou pela França, pelos Estados Unidos e pelo Canadá, fixando-se em Lisboa, onde trabalhou por algum tempo organizando o Partido Socialista. Amigo de Eça de Queirós e Oliveira Martins, pertenceu à chamada Geração de 70, grupo ligado à «Questão Coimbrã» e que pretendia renovar a mentalidade em Portugal.
Apesar de não ter deixado uma obra extensa, Antero Tarquíneo de Quental é considerado um dos principais poetas portugueses modernos. Aluno brilhante na Universidade de Coimbra, em Portugal, formou-se em direito, em 1864. Dois anos depois tentaria alistar-se no exército do nacionalista Giuseppe Garibaldi, o revolucionário que havia unificado a Itália em 1861.
Ilhéu, isto é, nascido numa ilha que era colónia portuguesa, viajou pela França, pelos Estados Unidos e pelo Canadá, fixando-se em Lisboa, onde trabalhou por algum tempo organizando o Partido Socialista. Amigo de Eça de Queirós e Oliveira Martins, pertenceu à chamada Geração de 70, grupo ligado à «Questão Coimbrã» e que pretendia renovar a mentalidade em Portugal.
A «Questão Coimbrã» foi uma polémica literária travada, em 1865, entre o círculo de poetas ligados a António Feliciano de Castilho e o grupo de jovens coimbrãos (isto é, ligados à Universidade de Coimbra) que manifestaram publicamente o seu interesse pela reforma da vida em Portugal. Veio, mais tarde, a ser conhecido como «Geração de 70», da qual Antero de Quental foi considerado mentor. Com os poemas «Odes Modernas» e o ensaio «Bom Senso e Bom Gosto», o poeta e pensador liderou a ruptura cultural com os valores do passado representados na «Questão», pelo poeta Castilho.
As suas obras vão da poesia à reflexão filosófica. Defendia a missão social da poesia como oposição ao lirismo ultra-romântico em voga na época. Sua poesia pode ser considerada uma procura filosófica pela verdade através da própria experiência. Os intelectuais do seu tempo o definiam como um homem de grande estatura moral e espiritual.
São também desse período do «Grupo dos 70» as suas manifestações de entusiasmo pelos movimentos sociais europeus, e a leitura dos grandes teóricos do socialismo e dos filósofos contemporâneos, em especial Proudhon e Hegel, que influenciaram bastante o seu pensamento.
Produziu ainda «Raios de Extinta Luz», «Primaveras Românticas», «Sonetos», «Prosas» e «Cartas». Ainda em vida, teve os seus sonetos traduzidos para o alemão.
Numa carta ao amigo Cândido de Figueiredo, datada de 3 de maio de 1881, dez anos antes da sua morte, se disse oriundo de uma família com antecedentes literários, de que destacava o Padre Bartolomeu de Quental «cujos sermões ainda hoje podem ser lidos com alguma utilidade» e o seu avô, André Ponte de Quental, «poeta nada vulgar» e amigo íntimo de Bocage.
Colaborou na criação de associações operárias, e ao mesmo tempo dedicou-se a divulgar ideais revolucionários, escrevendo panfletos e artigos sobre assuntos sociais e literários para o «Jornal do Comércio» e o «Diário Popular», de Lisboa, e para «O Primeiro de Janeiro», do Porto. Fez parte das redacções dos periódicos «A República» e «Pensamento Social».
Fundou, em 1872, a Associação Fraternidade Operária, representante em Portugal da 1ª Internacional Operária.
Sofria de uma doença mental, identificada por alguns como psicose maníaco-depressiva, hoje chamada de transtorno bipolar, pela moderna psiquiatria. Em função desse distúrbio, caracterizado por períodos de delírio alternados com profunda depressão, torna-se quase inválido, o que faz diminuir o seu activismo político em prol de um nacionalismo ibérico e do socialismo.
O seu último ensaio filosófico, «A Filosofia da Natureza dos Naturalistas», foi publicado em 1884, na Revista de Portugal, editada por Eça de Queirós.
Em 5 de junho de 1891, adoentado, provavelmente deprimido, regressou para Ponta Delgada, sua cidade natal no arquipélago dos Açores, cometendo suicídio três meses depois.
Fonte: UOL Educação
COM OS MORTOS
Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,
arrastados no giro dos tufões, Levados, como em sonho, entre visões,
Na fuga, no ruir dos universos...
Na fuga, no ruir dos universos...
E eu mesmo, com os pés também imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos...
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos...
Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei vivem comigo,
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei vivem comigo,
Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem.
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem.
Antero de Quental
DIVINA COMÉDIA
Erguendo os braços para o céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: — «Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,
Os homens clamam: — «Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,
Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
N'um turbilhão cruel e delirante...
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
N'um turbilhão cruel e delirante...
Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?
Porque é que para a dor nos evocastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»
Antero de Quental
NIRVANA
Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;
Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;
Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;
Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!
Antero de Quental
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