terça-feira, 31 de julho de 2012

FORTALEZA DE ALANDROAL

Fortaleza de Alandroal/ Desenho: Duarte d'Armas 
Vista Tirada da Banda do Norte


CASTELO DE ALANDROAL

O castelo gótico do Alandroal é uma das melhores datadas obras de arquitectura militar do período dionisino, graças a duas inscrições, comemorativas do arranque e da conclusão dos trabalhos de construção.

A primeira data de 6 de Fevereiro de 1294 (BARROCA, 2000, vol. 2, t.1, pp.1108-1113)  encontra-se sobre uma das portas da fortaleza. Por ela sabemos que o promotor do projecto foi o Mestre da Ordem de Avis, D. João Afonso, que colocou a primeira pedra nessa data. A segunda corresponde ao dia 24 de Fevereiro de 1298, sendo mestre da Ordem D. Lourenço Afonso, e localiza-se no alçado ocidental da Torre de Menagem (actualmente integrado na Sala do Tesouro da igreja matriz) (IDEM, pp.1140-1144).

No espaço de apenas quatro anos, procedeu-se, assim, à edificação do conjunto fortificado, informação que é preciosa para a caracterização da arquitectura militar ao tempo de D. Dinis, mas também para o reconhecimento do grande investimento que a Ordem de Avis efectuou, por esses anos, em castelos no Alentejo, de que são também exemplo os de Noudar e Veiros.

Mas esta fortaleza é ainda importante sob outros aspectos, nomeadamente quanto à identidade e formação cultural do seu arquitecto. Uma terceira inscrição, datada criticamente entre 1294 e 1298 (localizada no torreão direito da porta do castelo) refere expressamente o nome do responsável pela condução dos trabalhos, um homem oriundo da comunidade muçulmana e auto-intitulado "Eu, Mouro Galvo" (IDEM, pp.1114-1118). Este letreiro tem sido considerado uma das mais importantes marcas mudéjares no nosso país e revela a existência de um albanil islâmico a comandar a edificação de um castelo, num tempo em que os inimigos não eram já, em primeira instância, as forças muçulmanas do Sul da península.

Planta da Fortaleza de Alandroal
Desenho de Duarte d'Armas

Independentemente do seu arquitecto, o castelo é uma típica fortificação gótica, de planta tendencialmente oval (integrando um pequeno bairro intra-muralhas), com torre de menagem adossada à cerca e porta principal (designada por Porta Legal) harmónica, protegida por duas torres quadrangulares, ligeiramente avançadas para permitir um maior raio de tiro vertical sobre a entrada. A torre de menagem é uma estrutura pesada, de planta quadrangular e de três pisos, cujo acesso ao interior encontra-se, actualmente, entaipado. A ela adossou-se, algum tempo depois, a igreja matriz da localidade e, em 1744, o seu terraço foi aproveitado para implantar uma torre do relógio.

Ao castelo associava-se a cerca da vila, cujo urbanismo é muito simples, com uma única via (Rua do Castelo) no sentido O. - E., flanqueada por duas portas, a Legal e a do Arrabalde, cujo pé-direito contém a "vara", célebre medida padrão seguida nas trocas comerciais. À parte esta padronização estrutural (certamente orientada pela Ordem de Avis), o arquitecto deixou algumas marcas da sua formação cultural, de que se destaca a lápide com o seu nome. Uma outra é a janela de arco em ferradura localizada numa das torres e outros aspectos podem ainda atribuir-se a este mudéjar, assim se faça um estudo rigoroso e monográfico do castelo, como as pretensas semelhanças entre o sistema de torres entre esta fortificação e as muralhas almorávidas de Sevilha, sugeridas por Fernando Branco CORREIA, 1995-97, p.127.

Fortaleza de Alandroal/ Desenho: Duarte d'Armas
Vista Tirada da Banda do Sul 

Não parece que Alandroal desempenhasse um papel de grande relevância na organização das linhas militares da região, pois cedo se iniciou a sua decadência. Em 1606, grande parte das construções no interior da cerca encontravam-se já arruinadas e, no século XVIII, o recinto foi objecto de algumas transformações importantes, como a destruição da barbacã para se edificarem os novos paços do concelho e a construção da cadeia comarcã no interior das muralhas.

Só na década de 40 do século XX se procedeu a obras de restauro, que incidiram preferencialmente na reconstrução de alguns troços e na desobstrução da estrutura de numerosas casas que, ao longo dos séculos, se haviam adossado às muralhas.
Fonte: alandroal.info/castelos.xml

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