As décimas que se publicam esta semana são da autoria de Carlos Gonçalves Silva. Este poeta popular nasceu em Terena, freguesia de São Pedro de Terena do concelho de Alandroal, a 27 de Maio de 1953. De ocupação comerciante, começou a fazer poesia desde muito novo.
Poet'anarquista
Carlos Gonçalves Silva
Poeta Popular
MOTE
Não tenho vergonha de ser
Aquilo que de facto sou
Mas às vezes chego a parecer
Aqueles com quem me dou.
Glosas
1ª
Já me têm censurado
Pelo meu próprio feitio
Tem sido vezes a fio
Chega a ser engraçado.
Os que de mim têm falado
Até me chego a convencer
Que t~em inveja do meu viver
Mas digo-lhes com sinceridade:
Sou pobre, é uma verdade
Não tenho vergonha de ser.
2ª
No campo guardei gado
Não o meu mas doutra gente
Mas mesmo assim fiquei contente
Por um dia o ter guardado.
Foi penoso o meu passado
Mas isso já tudo passou
Essa imagem triste ficou
Mas não foi ainda esquecida,
Agradeço à própria vida
Aquilo que de facto sou.
3ª
Falo ao velho e ao novo
Ao rico e ao pobre falo
Na rua, tanto me ralo!
Pois sou filho do povo.
Para alguns sou estorvo
Mas não consigo compreender
Porque comigo vêm ter
Rico pensam que sou,
Pois isso ainda não estou
Mas às vezes chego a parecer.
4ª
No Alentejo foi a minha criação
Nele fui crescendo e aprendendo
Embora muito sofrendo
Para ganhar um bocado de pão.
Tive que lamber as pedras do chão
Meu corpo bastante suou
Graças a Deus ainda cá estou
Para aquilo que me está destinado,
Vou caminhando ao lado
Daqueles com que me dou.
Carlos Silva
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