«Cavalgada no Tapete Voador»
Milo Manara
87- «NA TANGENTE DA LINGUAGEM ACEITÁVEL»
1.º
“Minha querida, você sabe que eu sou conservador. Que não
alinho nessas larguezas de costumes. E foi por me ter afastado dessa minha
maneira de ser, que agora me vejo neste estado.” E o homem, apavorado, olhava
para o meio das suas próprias pernas, para o sítio em que deveria estar um
órgão sexual de média dimensão, e via uma espécie de salsicha gorda e inchada,
nitidamente em má forma. Desde logo pela cor que apresentava: roxa.... roxa semana
santa! Certamente por ali houvera grande derrame sanguíneo. E não obstante o
mau aspecto, também doía, segundo ele dizia. Enquanto o homem se lamentava,
inconsolável, a mulher, de cabelos loiros, olhos claros e fisicamente atraente,
fazia a cosmética em frente do toucador. Ele continuava a olhar para o
instrumento e a queixar-se: “Foi o que eu ganhei em deixar-me cavalgar por si.
Essa história de mulher por cima sempre me fez muita confusão. Nestas coisas,
mulher é para ficar por baixo. E você, querida, que trazia toda essa
experiência do seu tempo de solteira, devia saber que, nessa posição, qualquer
contorção da sua parte poderia provocar lesões. Mas não... não, você não se
limitou a contorcer-se, você cavalgou, esporou, perdeu o controlo e o equilíbrio
por várias vezes... e nem sequer ouviu quando eu gritei que me sentia quebrado.
Raios... não vou deixar que você me use outra vez dessa maneira. Agora até me
envergonho de ir ao médico.
«A Massagem»
Milo Manara
Que justificação vou dar para isto?” E foi por esta
altura da lamentação que a mulher, olhando para o objecto dos cuidados dele,
disse: “Não se preocupe, meu amor. Mais logo vou dar-lhe uma boa massagem, e
verá que rapidamente fica pronto para outra.”
FIM
«O Coito Primitivo»
Milo Manara
88- «NA TANGENTE DA LINGUAGEM ACEITÁVEL»
2.º
Como é que raios ela queria que ele demorasse a ejaculação?
Ele era lá agora capaz de se suster! Bastava que ela o desafiasse para aquela
posição e já ele se sentia em brasa. O curioso é que fora ele que, nos
primeiros tempos de casados, tivera um trabalhão para a convencer a fazer sexo
daquela maneira. Aos poucos, ela tomara-lhe o gosto e agora estava sempre a
desafiá-lo para aquele tipo de coito primitivo. Mas sempre se queixava que ele
ejaculava rapidamente. E o que podia ele fazer para evitar isso? Pois naquela
posição, com ele a “cobri-la” por trás, ficava completamente à mercê da libido,
e num instante esvaziava. Assim tinha acontecido nessa tarde. Bastara vê-la na
cozinha, de rabo alçado, balançando as ancas ao ritmo da esfregona que ela
passava no pavimento. Traçara-a com uma das mãos pela cintura e pedira-lhe uma
rapidinha, enquanto o jantar acabava de apurar. Com ela inclinada sobre a
máquina de lavar a loiça, com as mãos apoiadas no balcão da cozinha, começara
por lhe morder a orelha, enquanto com a outra mão lhe baixava as calcinhas.
Ainda se ajoelhara e passara a língua naquela púbis, muito peluda, e que já
esperava a arremetida. Suplicara-lhe que não se contorcesse, que se mantivesse
o mais quieta possível, pois já por mais que uma vez as contorções dela quase
lhe tinham danificado o ‘equipamento’. Foi dito e feito. – “Já está?” – perguntou ela,
espantada com a rapidez. “Já” – respondeu ele.
«O Jogo de Língua»
Milo Manara
“Pois fica sabendo que isto não
acaba aqui. Mais logo, quando nos deitarmos, quero ser compensada com aquele
jogo de língua em que tu és mestre e que me deixa sempre descomposta.” – disse
ela, marcando uma posição definitiva.
FIM
Milo Manara
89- «NA TANGENTE DA LINGUAGEM ACEITÁVEL»
3.º
Sentia-se que nem uma gata assanhada pelo cio. Tinha dias
assim. Eram os seus dias de ‘Gata em Telhado de Zinco Quente’, pensava ela,
lembrando-se da peça de teatro de Tennessee Williams. Desde a puberdade que assim era. Mas não se pense que
se atirava ao primeiro homem que lhe aparecia. Tentava combater essa propensão
para sexo rápido e sem compromisso, escolhendo criteriosamente a sua “vítima”:
era assim que se referia aos homens que engatava nesses dias de brasa. Agora,
já beirando os quarenta, ainda era mais criteriosa. Nesses dias, normalmente,
acabava naquele bar em que tomava um copo no fim do dia de trabalho, olhando em
volta e fisgando o tipo que lhe iria acalmar os sentidos. Nesse dia, calhou em
sorte um espécime masculino, com cerca de metade da sua idade que, encostado ao
balcão, sentado num banco alto, olhava tristemente para o fundo do copo. “Vou
tirar a tristeza dos olhos daquele rapazinho.” – disse para si própria. E com a
arte que a prática lhe tinha dado, em pouco mais de meia hora, já estava no
quarto do hotel satisfazendo as suas fantasias. O mais difícil foi desfazer-se
dele no fim da cena, pois o miúdo, com toda a gratidão do mundo no olhar, já
começava a dizer que a amaria para sempre. Uma hora depois, após uma passagem
rápida pelo supermercado, já ela estava a aquecer as pizzas que seriam o jantar
da família que deveria estar a chegar.
FIM
O. W. Calabrese
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