domingo, 23 de fevereiro de 2014

OUTROS CONTOS

«3 mini.... mini contos.... – na tangente de linguagem aceitável», por O. W. Calabrese.

«Cavalgada no Tapete Voador» 
Milo Manara

87- «NA TANGENTE DA LINGUAGEM ACEITÁVEL»

1.º

“Minha querida, você sabe que eu sou conservador. Que não alinho nessas larguezas de costumes. E foi por me ter afastado dessa minha maneira de ser, que agora me vejo neste estado.” E o homem, apavorado, olhava para o meio das suas próprias pernas, para o sítio em que deveria estar um órgão sexual de média dimensão, e via uma espécie de salsicha gorda e inchada, nitidamente em má forma. Desde logo pela cor que apresentava: roxa.... roxa semana santa! Certamente por ali houvera grande derrame sanguíneo. E não obstante o mau aspecto, também doía, segundo ele dizia. Enquanto o homem se lamentava, inconsolável, a mulher, de cabelos loiros, olhos claros e fisicamente atraente, fazia a cosmética em frente do toucador. Ele continuava a olhar para o instrumento e a queixar-se: “Foi o que eu ganhei em deixar-me cavalgar por si. Essa história de mulher por cima sempre me fez muita confusão. Nestas coisas, mulher é para ficar por baixo. E você, querida, que trazia toda essa experiência do seu tempo de solteira, devia saber que, nessa posição, qualquer contorção da sua parte poderia provocar lesões. Mas não... não, você não se limitou a contorcer-se, você cavalgou, esporou, perdeu o controlo e o equilíbrio por várias vezes... e nem sequer ouviu quando eu gritei que me sentia quebrado. Raios... não vou deixar que você me use outra vez dessa maneira. Agora até me envergonho de ir ao médico. 

«A Massagem»
Milo Manara

Que justificação vou dar para isto?” E foi por esta altura da lamentação que a mulher, olhando para o objecto dos cuidados dele, disse: “Não se preocupe, meu amor. Mais logo vou dar-lhe uma boa massagem, e verá que rapidamente fica pronto para outra.”

FIM

«O Coito Primitivo»
Milo Manara

88- «NA TANGENTE DA LINGUAGEM ACEITÁVEL»

2.º

Como é que raios ela queria que ele demorasse a ejaculação? Ele era lá agora capaz de se suster! Bastava que ela o desafiasse para aquela posição e já ele se sentia em brasa. O curioso é que fora ele que, nos primeiros tempos de casados, tivera um trabalhão para a convencer a fazer sexo daquela maneira. Aos poucos, ela tomara-lhe o gosto e agora estava sempre a desafiá-lo para aquele tipo de coito primitivo. Mas sempre se queixava que ele ejaculava rapidamente. E o que podia ele fazer para evitar isso? Pois naquela posição, com ele a “cobri-la” por trás, ficava completamente à mercê da libido, e num instante esvaziava. Assim tinha acontecido nessa tarde. Bastara vê-la na cozinha, de rabo alçado, balançando as ancas ao ritmo da esfregona que ela passava no pavimento. Traçara-a com uma das mãos pela cintura e pedira-lhe uma rapidinha, enquanto o jantar acabava de apurar. Com ela inclinada sobre a máquina de lavar a loiça, com as mãos apoiadas no balcão da cozinha, começara por lhe morder a orelha, enquanto com a outra mão lhe baixava as calcinhas. Ainda se ajoelhara e passara a língua naquela púbis, muito peluda, e que já esperava a arremetida. Suplicara-lhe que não se contorcesse, que se mantivesse o mais quieta possível, pois já por mais que uma vez as contorções dela quase lhe tinham danificado o ‘equipamento’. Foi dito e  feito. – “Já está?” – perguntou ela, espantada com a rapidez. “Já” – respondeu ele. 

«O Jogo de Língua»
Milo Manara

“Pois fica sabendo que isto não acaba aqui. Mais logo, quando nos deitarmos, quero ser compensada com aquele jogo de língua em que tu és mestre e que me deixa sempre descomposta.” – disse ela, marcando uma posição definitiva.

FIM

«Satisfazendo as suas Fantasias»
Milo Manara

89- «NA TANGENTE DA LINGUAGEM ACEITÁVEL»

3.º

Sentia-se que nem uma gata assanhada pelo cio. Tinha dias assim. Eram os seus dias de ‘Gata em Telhado de Zinco Quente’, pensava ela, lembrando-se da peça de teatro de Tennessee Williams. Desde a  puberdade que assim era. Mas não se pense que se atirava ao primeiro homem que lhe aparecia. Tentava combater essa propensão para sexo rápido e sem compromisso, escolhendo criteriosamente a sua “vítima”: era assim que se referia aos homens que engatava nesses dias de brasa. Agora, já beirando os quarenta, ainda era mais criteriosa. Nesses dias, normalmente, acabava naquele bar em que tomava um copo no fim do dia de trabalho, olhando em volta e fisgando o tipo que lhe iria acalmar os sentidos. Nesse dia, calhou em sorte um espécime masculino, com cerca de metade da sua idade que, encostado ao balcão, sentado num banco alto, olhava tristemente para o fundo do copo. “Vou tirar a tristeza dos olhos daquele rapazinho.” – disse para si própria. E com a arte que a prática lhe tinha dado, em pouco mais de meia hora, já estava no quarto do hotel satisfazendo as suas fantasias. O mais difícil foi desfazer-se dele no fim da cena, pois o miúdo, com toda a gratidão do mundo no olhar, já começava a dizer que a amaria para sempre. Uma hora depois, após uma passagem rápida pelo supermercado, já ela estava a aquecer as pizzas que seriam o jantar da família que deveria estar a chegar.

FIM

O. W. Calabrese

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