terça-feira, 11 de março de 2014

«LINGUAJAR», POR MANEL CALADO

São Tiago Rio de Moinhos
Ali nas Abas da Serra D'Ossa

Hoje olhei com amor para a minha aldeia. Porém, ao longo da minha vida, 
essa relação tem sido oscilante.

Há uns anos, costumava apresentá-la como a aldeia mais feia do Alentejo. 

Cheguei a propor, numa reunião com responsáveis pelo Turismo regional, que o marketing turístico da aldeia se baseasse nesse facto incontornável. A Aldeia mais Feia do Alentejo. 

A aldeia antiga, essa, quase foi extinta. 

Mas hoje reparo como está limpinha, sem lixo no chão, casas pintadas, gente simpática, amável. Gente boa. Está-se bem, em Rio de Moinhos. Com a serra d'Ossa, ao fundo. E o Castelão. 

PS. Todas as pequenas comunidades, sobretudo as mais isoladas, desenvolvem características peculiares, em termos de linguajar. Rio de Moinhos, também. 

Há anos que, com minha irmã, tentamos reunir algumas expressões e termos mais específicos.

Ultimamente, tenho-me divertido a fazer quadras ao gosto popular, usando as entradas desse dicionário Arregoteiro- Português.
Fonte: facebook manuel.calado 

Poeta Popular Manel Calado
LINGUAJAR (quadras ao gosto popular)

Cá vão, a título de exemplo, algumas delas:

Eu sei que tou passaranas
Fui picado por um mechano
Vou passar duas semanas
É melhor que ser um ano.

Versando a mole e mole
Na fala da minha terra
O que um arregotêro bole
Pa na ir ó mato à serra.

Fui beber água ao Chaboco
Espanfei-me a dromir a sesta
Beijei-te, soube-me a pouco
Que mecha de vida esta.

Tu, meiga e empalagosa,
Enregas a espinicar
Eu sou caco, tu a Rosa
Que até dá gosto cheirar.

És bonita, palpitosa
A menina dos mês olhos
Alvores , opiniosa:
Toma lá beijos aos molhos.

Sou um malandro aguçoso
Chamborgas e estrafalário
Sou Pé Leve, dá-me gozo
Ando a cumprir o Fadário.

Não gosto dela à manela,
Já lá dezia o Tatinha,
Quero vê-la, quero tê-la
Mas olha que sina a minha

Manel Calado

(Amanhã, se quiser cá voltar,
Haverá mais Linguajar!)
Poet'anarquista

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