«O Bule de Chá»
Conto de Maria Ondina Braga
Por aqui:
Poet'anarquista
105- «O BULE DE CHÁ»
Num dos importantes
museus da capital da China, ao lado de várias preciosidades de
porcelana, está em exposição um velho bule de chá sem tampa que tem uma
história engraçada que vou aqui contar. Há alguns séculos atrás existiu, na
China, um Imperador que gostava muito de jogar cartas. Mas como não podia jogar
sozinho, ordenou a um dos seus ministros que lhe mandasse todos os dias ao palácio
um jogador para seu companheiro de jogo. O ministro, porém, nunca mais apareceu
com o jogador.
– Porque é que não me trazes um bom parceiro de cartas, entre
tantos que há na China? – perguntou-lhe
o Imperador.
– Saiba Vossa Majestade que todos aqueles com quem falei são óptimos.
– Então porque ainda mos não trouxeste?
– Com medo de que, em vez de Vossa
Senhoria, sejam eles a ganhar.
– Ora! Cartas são nada mais nada menos que uma questão de
arte. Vai, pois, buscar o melhor de todos e trá-lo cá amanhã. Se ele ganhar, eu não me zango, não. Antes
pelo contrário, até lhe dou uma prenda – e o Imperador apontou para um bule de
chá que estava em cima da sua secretária.
Um bule de loiça fina como papel, leve que nem uma folha, transparente como o cristal, e que tinha um dragão de oiro de um lado e, do outro lado, uma maravilhosa Fénix de penas de prata e de coral.
Enfim, um dos mais raros tesouros do palácio imperial, esse bule.
Um bule de loiça fina como papel, leve que nem uma folha, transparente como o cristal, e que tinha um dragão de oiro de um lado e, do outro lado, uma maravilhosa Fénix de penas de prata e de coral.
Enfim, um dos mais raros tesouros do palácio imperial, esse bule.
– Está Vossa Majestade a falar sério? – perguntou o ministro que sabia quanto o
Imperador estimava o bule.
– Claro que estou!
E no dia seguinte apareceu o
ministro sozinho.
– Então o jogador? –
inquiriu o Imperador.
– Tenha Vossa Majestade a bondade de hoje jogar comigo –
respondeu o ministro a rir.
E começaram o jogo. O ministro, no entanto, usando
das suas habilidades, fez com que, dentro de uma hora, o Imperador perdesse a
partida. Suspirando, então, de raiva, Sua Majestade apontou para o ministro o
dedo trémulo.
– Mas como é que te atreveste a derrotar-me? Como?
– Bem, Vossa Majestade tinha dito que o jogo era apenas uma arte.
– Sai daqui! Desaparece-me, antes que eu…!
– O bule de chá, Vossa Majestade! O
bule que prometeu?
Furioso, o Imperador agarrou na tampa do bule e
arremessou-a ao ministro que entretanto fugia.
Assim, hoje, o antigo bule de
chá de porcelana está no museu, sem tampa.
Maria Ondina Braga
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