sexta-feira, 14 de março de 2014

OUTROS CONTOS

«O Bule de Chá», por Maria Ondina Braga.

«O Bule de Chá»
Conto de Maria Ondina Braga

Por aqui:
Poet'anarquista

105- «O BULE DE CHÁ»

Num dos importantes  museus da capital da China, ao lado de várias preciosidades de porcelana, está em exposição um velho bule de chá sem tampa que tem uma história engraçada que vou aqui contar. Há alguns séculos atrás existiu, na China, um Imperador que gostava muito de jogar cartas. Mas como não podia jogar sozinho, ordenou a um dos seus ministros que lhe mandasse todos os dias ao palácio um jogador para seu companheiro de jogo. O ministro, porém, nunca mais apareceu com o jogador. 

– Porque é que não me trazes um bom parceiro de cartas, entre tantos que há na China?  – perguntou-lhe o Imperador. 

– Saiba Vossa Majestade que todos aqueles com quem falei são óptimos. 

– Então porque ainda mos não trouxeste?

– Com medo de que, em vez de Vossa Senhoria, sejam eles a ganhar.

– Ora! Cartas são nada mais nada menos que uma questão de arte. Vai, pois, buscar o melhor de todos e trá-lo cá amanhã.  Se ele ganhar, eu não me zango, não. Antes pelo contrário, até lhe dou uma prenda – e o Imperador apontou para um bule de chá que estava em cima da sua secretária.

Um bule de loiça fina como papel, leve que nem uma folha, transparente como o cristal, e que tinha um dragão de oiro de um lado e, do outro lado, uma maravilhosa Fénix de penas de prata e de coral.
Enfim, um dos mais raros tesouros do palácio imperial, esse bule. 

– Está Vossa Majestade a falar sério?  – perguntou o ministro que sabia quanto o Imperador estimava o bule.

– Claro que estou! 

E no dia seguinte apareceu o ministro sozinho.

– Então o jogador?  – inquiriu o Imperador. 

– Tenha Vossa Majestade a bondade de hoje jogar comigo – respondeu o ministro a rir. 

E começaram o jogo. O ministro, no entanto, usando das suas habilidades, fez com que, dentro de uma hora, o Imperador perdesse a partida. Suspirando, então, de raiva, Sua Majestade apontou para o ministro o dedo trémulo. 

– Mas como é que te atreveste a derrotar-me? Como? 

– Bem, Vossa Majestade tinha dito que o jogo era apenas uma arte. 

– Sai daqui! Desaparece-me, antes que eu…! 

– O bule de chá, Vossa Majestade! O bule que prometeu? 

Furioso, o Imperador agarrou na tampa do bule e arremessou-a ao ministro que entretanto fugia. 

Assim, hoje, o antigo bule de chá de porcelana está no museu, sem tampa.

Maria Ondina Braga

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