«Palavras de Um Certo Morto»
Desenho a Carvão de JPGalhardas
259- «PALAVRAS DUM CERTO MORTO»
Há mil anos, e mais, que aqui estou morto,
Posto sobre um rochedo, à chuva e ao vento:
Não há como eu espectro macilento,
Nem mais disforme que eu nenhum aborto...
Só o espírito vive: vela absorto
Num fixo, inexorável pensamento:
“Morto, enterrado em vida!” o meu tormento
É isto só... do resto não me importo...
Que vivi sei-o eu bem... mas foi um dia,
Um dia só ‑ no outro, a Idolatria
Deu-me um altar e um culto... ai! adoraram-me
Como se eu fosse alguém! como se a Vida
Pudesse ser alguém! — logo em seguida
Disseram que era um Deus... e amortalharam-me!
Antero de Quental
PS- Outros Contos referente ao dia 06. 09. 2014
Poet'anarquista
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